O Rio Grande do Sul pode estar prestes a coroar duas "rainhas do pop". São as drags Sarah Vika e Wes, participantes da primeira temporada do Queen Stars Brasil, reality show que estreia nesta quinta-feira (24) na plataforma de streaming HBO Max.
Sob o comando de Pabllo Vittar e Luísa Sonza, a competição está em busca de formar o primeiro trio de cantoras drags do país — ou seja, terá três grandes vencedoras, e pode ser que as duas representantes do Estado estejam entre elas.
São 20 drag queens de diferentes regiões do país que, ao longo dos oito episódios, disputam uma vaga no grupo de campeãs por meio de desafios coletivos e individuais que envolvem canto, dança e performance, além de outras habilidades caras à arte drag. Elas contam com o auxílio do time de mentores Bruno Barbosa (dança), Blacy Gulfier (canto), Michelly X (visagismo) e Flávio Verne (diretor artístico).
Quem se der mal em alguma prova vai "virar purpurina", abandonando a disputa. Os responsáveis por definir quem vai dar tchau às colegas são os jurados Vanessa da Mata, Diego Timbó e Tiago Abravanel.
A partir do dia 4 de abril, o programa também poderá ser conferido no canal por assinatura TNT, toda segunda-feira, às 20h.
Abaixo, conheça as representantes do Rio Grande do Sul na disputa.
![Divulgação / HBO Max Divulgação / HBO Max](https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/35655452.jpg?w=700)
Rafael Mello, a Sarah Vika
Sarah Vika já é bem mais conhecida do que Rafael Mello, mato-grossense radicado no Rio Grande do Sul. É ele o artista por trás da drag queen que agora integra o elenco do Queen Stars — e que já se tornou mais "estrela" do que ele próprio poderia prever.
Criado em Caxias do Sul, para onde se mudou com a família aos cinco anos, o artista criou Sarah em 2012. Começou sem grandes pretensões, mas, como se orgulha em dizer, já alcançou lugares um dia inimagináveis com a personagem.
— Sempre fui aquela criança e adolescente muito mais voltado para o lado artístico. Sempre foi muito claro para mim que eu era diferente dos outros meninos da escola, que eu gostava muito mais de música, de dança — lembra. — Em 2012, eu conheci o programa RuPaul's Drag Race e percebi que naquilo (a arte drag) estava tudo o que eu tinha gostado durante toda a minha vida e nunca havia entendido.
Hoje, é de Sarah que Rafael tira seu sustento — desde 2017, quando decidiu abandonar a carreira no mercado publicitário para dedicar-se exclusivamente ao sonho de viver da arte. De lá para cá, sua drag participou de um reality de maquiagem do programa SuperBonita, do GNT, e venceu, tornou-se garota propaganda de uma das marcas de cosméticos mais renomadas do país, com direito a comercial em horário nobre na TV aberta, e até apresentou ações da marca em duas edições do Big Brother Brasil.
Agora, com a participação no reality do HBO Max, a carreira do artista ganha uma outra faceta: sua drag vai virar cantora. Ele sempre teve contato com o canto, pois vem de uma família de músicos, mas, por conta de um trauma vivido ainda nos anos escolares, optou por não trazer isso para a personagem.
— Na adolescência, houve um episódio em uma gincana da escola em que eu cantei e acabei sofrendo muito bullying. Eu já era o adolescente gay da escola e ainda me botei a cantar na frente de todos, então sofri um bullying muito grande. Depois, meio que nunca quis trazer de volta essa coisa de cantar em público, porque a Sarah surgiu como uma personagem com a qual eu pudesse viver coisas que me empoderam, me deixam seguro. Então nunca quis botar o canto na minha arte drag — diz, revelando que só tomou coragem para se inscrever no Queen Stars pelo incentivo de amigos que sabiam de seu talento para a música.
Nesse sentido, a competição foi um grande desafio, mas também serviu como o empurrãozinho que faltava para que o artista superasse o trauma. E o empurrão foi tão certeiro que Sarah já está até preparando o lançamento de uma música própria, sobre a qual ainda não pode revelar muitos detalhes.
Rafael também não pode dar spoilers sobre como foi seu desempenho na disputa, mas já sabe o que espera que o público leve de sua participação:
— Dentro desse nosso trabalho enquanto artistas drags, a gente entrega muito mais do que subir em cima de um salto, botar uma peruca na cabeça e se maquiar. A gente entrega um sonho. Quando a gente está em cima do palco, a gente quer que as pessoas acreditem que os sonhos delas são possíveis, assim como a gente acredita que o nosso é possível, e que a gente pode ser quem a gente quiser, por mais improvável que isso pareça.
![Divulgação / HBO Max Divulgação / HBO Max](https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/35655453.jpg?w=700)
Wesley Araújo, a Wes
Wes é o apelido e a persona drag de Wesley Araújo, natural de Taquara. Antes de chegar ao Queen Stars, ele já era conhecido na cena LGBT+ por integrar o Armário de Saia, duo com o amigo Grégori Mohd — também gaúcho e que dá vida a Grag Queen, vencedora do reality internacional Queen of the Universe.
Wes começou a cantar aos 14 anos, de forma "tardia", segundo ele, por conta do medo de ser julgado. Na época, expressava-se por meio da ilustração:
— Eu me considerava uma criança muito tímida. Mas depois que a gente cresce, a gente faz algumas novas leituras: na verdade, eu era um indivíduo LGBT+ que sofria aquela pressão. E quando eu tinha medo de me expor ou de expor a minha arte, de certa forma, eu na verdade só estava cedendo a essa pressão.
A coragem veio depois que Wesley assistiu ao filme Camp Rock e, inspirado na produção da Disney, decidiu se tornar um artista completo: que canta, dança e atua. A partir disso, ele começou a se inscrever em realities e chegou a participar de temporadas do musical Korvatunturi, em Gramado.
À aspiração de ser um artista completo, a arte drag serviu como uma luva. Depois de entrar em contato com a cultura drag no fim da adolescência através de amigos, também muito por conta do reality RuPaul’s Drag Race, Wes percebeu que esse tipo de performance pode englobar a dança, a música, a atuação e outros tipos de linguagens.
Em 2017, ele se juntou a Grag e, em seguida, já fazia shows e peças publicitárias. O primeiro vislumbre do sucesso foi com o vídeo Medley Drag Brasil, em que as duas homenageiam outras artistas drags brasileiras, e que já soma mais de 500 mil visualizações no YouTube.
A participação no programa, conta, foi um divisor de águas na sua vida. No trailer, podemos ver uma cena em que Wes responde aos jurados que discorda de suas críticas. A drag explica que foi muito cobrada por não entregar sua "alma" nas performances, mas que aprendeu com isso:
— É muito estranho para a gente que é muito perfeccionista entregar uma performance com todo um emaranhado técnico e receber uma crítica como "falta alma" ou "falta entrega". A gente não consegue palpar esse tipo de adjetivo. E depois de sair do programa e refletindo muito sobre isso, hoje eu entendo que muitas vezes me faltava estar presente, estar vivo né.
Para o futuro após o programa, Wes planeja lançar um novo material:
— Eu estou muito ansioso para voltar aos palcos, muito ansioso para liberar todos os conteúdos aí que tenho para soltar — adianta.
*Colaborou Mariana Barcellos