Era 1979 quando dois guris vindos do Rio Grande do Sul entraram no camarim de seus ídolos do Sudeste, meio desajeitados, meio envergonhados e meio “na cara e na coragem”, para oferecer composições suas. Nem tinham muita pretensão – para não dizer nenhuma –, mas deu certo. Uma das canções não só seria gravada pelo grupo como se tornaria um dos maiores sucessos dele.
Os guris eram Kleiton e Kledir, e os ídolos, o quarteto vocal MPB4, fenômeno nos anos 1970. Mas o que nem os guris nem os ídolos previram era que dali nasceriam um sem-fim de outras parcerias e uma amizade que já perdura mais de quatro décadas. É para celebrá-la que, no sábado, os seis sobem juntos ao palco do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), às 18h e às 21h, em espetáculos que prometem emocionar a eles e ao público.
No repertório não poderia faltar a música responsável por isso tudo: Vira Virou. Emblemática para o período de reabertura democrática, nos anos finais da ditadura militar, ela ganhou projeção nacional nas vozes do MPB4. E os guris embarcaram junto no sucesso, acompanhando o quarteto na turnê do álbum que acabou por também levar o nome da música dos dois.
– A gente cantava o nosso repertório e abria uma janela para o número deles. Isso foi uma loucura. A música gaúcha não estava impregnada, o pessoal não estava ligado que havia essa produção musical no Rio Grande do Sul, então aquilo foi um negócio surpreendente. Ficávamos na coxia olhando eles cantarem e era uma catarse, o público adorava – lembra Miltinho, integrante desde a formação original do MPB4.
Essas histórias devem ser contadas nos espetáculos, que mesclarão cantoria e causos, bem ao modo reunião de amigos. Reunião mesmo, porque eles não pretendem se separar: os seis ficarão juntos no palco todo o show, pesando o tablado com nada menos que 90 anos de música – 40 da dupla gaúcha, 50 do quarteto carioca.
"Nós éramos dois guris envergonhados"
De suas casas no Rio de Janeiro, Kleiton e Kledir conversaram com a reportagem de GZH, por telefone. No bate-papo, os dois falam sobre a importância do MPB4 para a trajetória da dupla, que acaba de completar 40 anos, e a amizade criada com o quarteto.
Revelam, ainda, quais são suas expectativas para o reencontro com o público porto-alegrense, desta vez acompanhados de velhos amigos, o significado de estrear o espetáculo em Porto Alegre e o que se pode esperar do show, definido por eles como uma “ousadia”.
Qual é a importância do MPB4 para esses 40 anos de Kleiton e Kledir?
Kleiton - O MPB4 sempre foi uma referência. Quando a gente teve a oportunidade de conhecê-los profissionalmente, foi como conhecer grandes ídolos. A partir daí, a coisa ganhou uma outra dimensão. Nós éramos dois guris envergonhados. Quando gravaram Vira Virou e montaram um espetáculo com esse mesmo nome, nós fomos junto como convidados, viajando com eles por quase dois anos. E aí se formou uma grande amizade.
Kledir - E aprendemos não só o caminho das pedras do showbusiness com eles, mas também a focar no que interessa, que é a música. Esse ambiente em que a gente vive é muito cheio de distrações, muito cheio de ego, e a gente aprendeu muito com eles sobre essa postura. Então, temos uma longa história de relação, mas nunca paramos para montar um espetáculo juntos. A marca desse show é a amizade.
Estrear a celebração dessa amizade em Porto Alegre tem um gostinho diferente?
Kleiton - É muito significativo. Poderíamos fazer a estreia em outro lugar, mas a cidade merece a nossa presença. Porto Alegre foi escolhida justamente pela nossa relação com o público. O pessoal sempre nos tratou com muito carinho, com admiração, conhece todo o nosso repertório. Somos muito mimados pelo Rio Grande do Sul. E o fato de as duas sessões estarem praticamente lotadas mostra o entusiasmo das pessoas.
O que o público pode esperar?
Kledir - Uma coisa de que eu gosto muito é que o show não é daqueles em que cada um faz a sua parte e no final apresentam um número juntos. São os seis o tempo todo no palco. E a grande novidade somos nós cantando coisas do MPB4 que fazem parte da nossa memória afetiva e a gente nunca cantou, e eles cantando músicas nossas que gostariam de cantar, mas acabaram nunca cantando.
Kleiton - E, naturalmente, foi um espetáculo muito mais difícil de montar. Estamos há muito tempo ensaiando, foi um preparo longo, cansativo, mas as dificuldades são minimizadas pela experiência de todos.
Kleiton & Kledir e MPB4
- Sábado, em duas sessões, às 18h e às 21h, no Teatro do Bourbon Country
- Ingressos de R$ 64 a R$ 260, disponíveis na plataforma Uhuu.
- Os primeiros 50 sócios do Clube do Assinante que adquirirem ingressos contam com 50% de desconto. Para os demais, há benefício de 10%.