A alcunha artística do xirú remete às divisas, mais precisamente aquelas lá para os lados da Região da Campanha. Mas o Gaúcho da Fronteira não se atém tanto a limites. Nascido em Rivera, no Uruguai, e criado na cidade vizinha de Santana do Livramento, no Brasil, o músico tornou-se um dos grandes nome do cancioneiro criado no Rio Grande do Sul. E, apesar de regionalismos nas composições, o cantor e compositor campereou todo o território nacional com sua música gaudéria debochada. E também se espraiou por outros gêneros, flertando com samba, forró e rock. Um pouco dessa trajetória de meio século bem demarcada, porém sempre derrubando barreiras, será apresentada nesta quinta-feira (16), no Teatro do Bourbon Country, às 21h.
O show marca a primeira apresentação do homem em um palco do tipo em Porto Alegre, o que o deixa louco de faceiro.
— Normalmente, meus shows são em rodeios e CTGs, onde o público vai para dançar. Agora, no teatro, é um espaço onde o pessoal vai me assistir plenamente, escutar meu repertório, as histórias. Tenho certeza de que vai ser muito gratificante ver esse público de pertinho — garante o artista, em entrevista por e-mail.
Ainda mais depois que "a peste", como ele mesmo refere-se ao coronavírus, assolou o planeta e o afastou do furdunço que é tocar ao vivo. Inclusive, a crise sanitária inspirou Gaúcho da Fronteira a compor a faixa Essa Tal Pandemia, lançada em meados de 2021.
— Quando apareceu essa peste, peguei a família e fui para um sítio que tenho a 50 quilômetros de Porto Alegre. Lá permaneci mais de um ano, saindo pouco. A mulher que fazia as compras e toda a manutenção que tivesse que sair de casa. Fiquei fazendo música e revendo outras tantas que tenho escritas e ainda não lancei. Então surgiu a música Essa tal de Pandemia — recorda Heber Artigas Armua Frós, nome de batismo do gaiteiro.
Se, de um lado, a situação ficou feia barbaridade com a crise sanitária, de outro teve seus aspectos positivos.
— Pra nós que temos mais de 50 anos de estrada, as viagens fazem parte da nossa vida, pois não foi fácil ficar por casa tanto tempo. Mas o lado bom foi ter convivido mais com a família, já que para nós músicos às vezes é difícil ficar por casa — admite Gaúcho da Fronteira.
Sobre o ecletismo na discografia — que inclui 43 trabalhos —, demonstrado em temas como Vanerão Sambado, Forronerão e até na regravação que os Engenheiros do Hawaii fizeram para Herdeiro da Pampa Pobre (que tem letra de Vaine Darde), reflete:
— O conjunto só agrega os ritmos e os povos, juntando o Sul com o Norte e o Nordeste.
Afora a pandemia inesperada, Gaúcho da Fronteira também passou por outras situações em que precisou reavaliar a forma de se relacionar com a própria carreira. E até com os fãs. A transição para o mercado de música digital é um exemplo.
— Esse é o tal do progresso que está chegando. Agora estou me amansando com tudo isso. Vejo que as redes sociais fazem a gente estar junto com os nossos fãs e quem gosta de um CD ou LP vai continuar colecionando por prazer — pondera.
Outra questão que poderia afetar a forma de se expressar do artista são os novos tempos, em que o público está mais vigilante para possíveis deslizes. Algo que, para quem é mais extrovertido, pode ocasionar interpretações negativas.
— Eu continuo do meu jeito, sempre respeitando o cidadão, mas a minha marca registrada é alegria. Gosto desse meu jeitão alegre porque precisamos ser otimistas, elevar nosso coração e contagiar nosso povo com felicidades e esperanças. Isso é herança da minha mãe: barulhenta, alegre. Ela também era compositora, inclusive tenho músicas gravadas de autoria dela. O artista e o homem são a mesma pessoa, pois a alegria está dentro de mim. Como diz o castelhano, "tal palo, tal astilla". Algo equivalente a "cavaco também é lenha" — diverte-se.
O show desta quinta-feira ganha ares ainda mais macanudos, pois tem a participação dos músicos Luiz Carlos Borges e João de Almeida Neto.
Gaúcho da Fronteira
Quando: nesta quinta-feira (16), às 21h.
Onde: no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80).
Ingressos: no site uhuu.com. Vendas na bilheteria do teatro de segunda-feira a sábado, das 13h às 21h, e domingos e feriados, das 14h às 20h.
Valores: R$ 120 (plateia baixa), R$ 120 (camarote), R$ 110 (plateia alta), R$ 100 (mezanino) e R$ 80 (galerias).