O sambista Nelson Sargento morreu nesta quinta-feira (27), no Rio de Janeiro. O artista estava internado desde a última sexta-feira (21), no Instituto Nacional de Câncer (Inca), após ser diagnosticado com o coronavírus. A informação foi confirmada pelo jornal O Globo.
Presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira e autor de faixas como Agoniza, mas Não Morre e Cântico à natureza, Sargento chegou a ser vacinado com a segunda dose contra a covid-19 no dia 26 de fevereiro. Mesmo assim, acabou sendo testado positivo para a doença e foi rapidamente internado.
Nascido em 25 de julho de 1924, na Praça 15, região central do Rio de Janeiro, Nelson Mattos ganhou o apelido de Nelson Sargento após fazer uma rápida passagem pelo Exército. Seu primeiro contato com o samba foi na infância, e aos 10 anos ele já desfilava tocando tamborim na escola Azul e Branco. A formação, em 1953, se fundiu com a Depois Eu Digo, que resultou na Acadêmicos do Salgueiro, anos mais tarde. Mas foi a Mangueira que marcou sua história, conquistando campeonatos com sambas-enredos como Apologia ao Mestre, composto em parceria com o padrasto, em 1950.
Fora da escola de samba, participou do histórico espetáculo Rosa de Ouro (1965), ao lado de Elton Medeiros, Clementina de Jesus e Paulinho da Viola. Como integrante do conjunto A Voz do Morro - ao lado de Paulinho da Viola, Zé Kéti, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescarzinho -, Sargento gravou Roda de Samba 2, um marco do gênero.
O primeiro álbum do artista, Sonho de um Sambista, foi lançado em 1979. Em 2002, Flores em Vida, concorreu ao Grammy Latino de melhor disco de samba. Ao longo da carreira, Sargento compôs mais de 400 músicas e seu primeiro álbum e teve parceiros de composição como Cartola, Carlos Cachaça e Darcy da Mangueira, entre outros.
Além da música, Sargento também ficou conhecido por se dedicar às artes plásticas, literatura e artes cênicas. No cinema, atuou nos filmes O Primeiro Dia, de Walter Salles e Daniela Thomas, Orfeu, de Cacá Diegues, e Nelson Sargento da Mangueira de Estêvão Pantoja. Este último lhe rendeu o Kikito, no Festival de Cinema de Gramado de 1997, de melhor trilha de curta-metragem. O projeto também recebeu o prêmio de melhor montagem, para Cezar Migliorini.
— Sou o único sambista com Kikito — brincou Sargento em entrevista a Zero Hora em 2003, quando veio a Porto Alegre para um show no Átrio do Santander Cultural. — Sempre gostei de cinema, mas nunca pensei que faria cinema — acrescentou.