Um legado que não somente é diverso, mas também se renova de tempos em tempos. O músico Flávio Basso, conhecido popularmente por seu nome artístico Júpiter Maçã, deixou diversos materiais que nunca viram a luz do dia. Graças ao trabalho de familiares, amigos e ex-colegas do artista, o público está tendo, aos poucos, acesso a produções inéditas. Nesta quinta-feira (22), mais de meia década após a morte do gaúcho, é lançado o single Cerebral Sex, de um projeto paralelo chamado The Apple Sound, que está disponível nas plataformas de streaming.
— A gente pode falar que Modern Kid, Cerebral Sex e Calling All Bands são irmãs. É uma época em que o Flávio estava curtindo Franz Ferdinand, relembrando o amor dele pelo Stereolab — afirma o diretor André Peniche.
Esta foi a única canção gravada em estúdio pelo grupo, que também tinha como integrantes Clegue França — namorada de Júpiter na época — , Laura Wrona e o Astronauta Pinguim. Três outras músicas estavam enfileiradas para serem gravadas e nunca saíram do papel. Além disso, a banda se apresentou poucas vezes. Tanto André Peniche quanto o Astronauta Pinguim e Laura citaram dois shows, ambos realizados em 2009: um no extinto clube Berlim, na capital paulista, e outro no Festival Contato, em São Carlos (SP). Os músicos também se lembram de um espetáculo na boate Macondo, em Santa Maria, que teria integrado uma pequena turnê no Rio Grande do Sul.
Conhecido por ser uma pessoa prolífica, Flávio criou o projeto durante um hiato da sua carreira solo e, assim que voltou a trabalhar como Júpiter Maçã, deixou o The Apple Sound de lado. Enquanto Astronauta Pinguim já tocava com ele na época, Laura conta que só havia tido contato com o músico uma vez: quando ela abriu um show dele, e quando foi convidada para tocar acordeão no talk show que o artista comandava na MTV, mesmo que ela não dominasse o instrumento.
— Passou um tempo, me ligaram de novo para chamar para esse projeto (do The Apple Sound) e eu avisei: "Olha, não toco sanfona". E me responderam: "Mas vem aí que inventamos alguma coisa para a gente tocar". Foi uma coisa muito inusitada — afirma a artista, que toca o bumbo de uma bateria desconstruída e canta no single.
Atualmente, o Astronauta Pinguim trabalha como produtor, além de manter seu projeto solo e ser professor de inglês. Laura, por sua vez, continua tendo como um de seus principais enfoques a música, tendo lançado em 2020 o single Se Acaso a Casa. Apesar de terem seguido rumos distintos, os artistas apontam para o fato de guardarem boas memórias dessa época do grupo e especialmente de Flávio, que estava sóbrio.
— Tive muitos problemas com ele em seus últimos quatro anos de vida e quando soube de sua morte eu disse: "Passa a régua, ninguém deve nada para ninguém". Aí começou a surgir boataria e, onde eu posso, defendo o Flávio. A memória dele deve ser preservada da melhor forma possível. Ele era um cara bonito, talentoso, gente boa — conta o Astronauta Pinguim.
— Eu conheci o Flávio como um cara gentil, educado, com mil ideias. E foi essa pessoa com quem eu convivi. Eu não tenho uma referência do Flávio alcoolizado. Tive a sorte de ver um outro — diz Laura. — Tenho uma conexão afetiva com esse momento — acrescenta.
Além da canção, nesta sexta-feira (23) será lançado o clipe, que havia ficado engavetado. Trata-se de um apanhado de imagens de uma turnê solo de Júpiter no sul do país em 2009, junto com filmagens de um longa-metragem que Flávio e Peniche começaram e nunca foi terminado. O vídeo será lançado no canal do YouTube do diretor a partir das 11h30min.