Apesar dos palcos estarem vazios há um ano, a música continua a se renovar. E as novidades estão chegando por meio de jovens artistas e músicos independentes.
Para os cantores e bandas de grande circulação, a pandemia tem representado um momento de pausa na apresentação de canções inéditas. Aqueles que lançaram material novo no final de 2019 ou início de 2020 ainda aguardam para cair na estrada para celebrar o álbum com o público. É o caso de Humberto Gessinger, que lançou Não Vejo a Hora em outubro de 2019.
— A turnê estava decolando quando surgiu a pandemia — lembra Humberto.
Armandinho, que também tem circulação massiva, considera que lançar novas canções é um investimento muito alto para um momento em que não é possível realizar shows.
— Eu estava gravando um álbum novo quando a pandemia começou, com gravações nos EUA e aqui. No início, eu ainda tinha esperança de lançar o trabalho. Agora, além de ter passado muito tempo, não tenho mais capital para fazer o lançamento que esse álbum merece. Vou esperar a gente voltar a trabalhar para avaliar como as coisas andam — explica Armandinho.
No entanto, para quem ainda está formando seu público, lançar trabalhos na pandemia é uma forma de criar uma demanda reprimida para quando os shows voltarem. É o que pensa o jovem Fred Beck, de 20 anos. Estudante de Direito, agora participa das aulas a distância na faculdade. Com mais tempo em casa, tem conseguido se dedicar intensamente à música e já lançou um EP com quatro faixas, em outubro.
Com canções autorais em inglês, o EP Chemistry demonstra influências de rock e folk. Agora, Beck tem trabalhado em novas canções em português.
— O que eu mais quero é voltar a fazer shows. Estou aproveitando que muita gente está na internet o tempo todo para divulgar o trabalho nas redes. Espero que traga uma boa audiência quando tocarmos ao vivo — projeta Fred.
O cantor e compositor Pedro Longes está sendo ainda mais radical nos lançamentos na pandemia. Depois de uma temporada de quatro anos em Santiago do Chile, onde estudou música e excursionou com seus discos Conexión (2015) e Longes Canta Spinetta (2018), ele voltou ao Brasil em junho de 2020. De lá para cá, já gravou nove faixas inéditas para o projeto Sinestesias, que consiste em uma série de singles mensais – em agosto, as canções serão reunidas em álbum.
— Eu havia recém chegado do Chile e comecei a entrar em contato com amigos que tocavam comigo. Gravei Sinestesias de maneira independente, com meus recursos. Foi um modo de fazer as coisas voltarem a acontecer aqui — explica Longes.
Além disso, ele lança nesta sexta-feira um novo disco com seis faixas, intitulado Canções de Amor e Solidão – desta vez, gravação e divulgação foram viabilizadas pela Lei Aldir Blanc de Canoas. O músico não mede resultados a curto prazo para seu trabalho:
— Minha preocupação é fazer um trabalho com cuidado, carinho e verdade. Penso na minha música a longo prazo: trabalhar e atrair um público. Às vezes, a gente espera demais de um lançamento, mas não vai tão bem. Em outras, há surpresas. Meu público é basicamente de RS, Santiago e Buenos Aires, mas Samba Erudito, do Sinestesias, agora começou a ser ouvida no Reino Unido pelo streaming. Nunca imaginaria isso.
Não são apenas os músicos em consolidação de carreira que têm se esforçado para lançar novidades. Neste mês, três dos instrumentistas mais respeitados do RS se reuniram para divulgar um novo disco. Vagner Cunha, Bebê Kramer e Paulinho Fagundes lançaram Yby, álbum que compila sete temas instrumentais com musicalidade do sul da América Latina.
O álbum nasceu depois de um encontro do trio, em setembro, na série de saraus da produtora Bell’Anima, da qual Vagner Cunha é um dos parceiros. Depois do sarau, transmitido pelas redes, os músicos resolveram registrar a sinergia em estúdio.
Cunha aponta que a decisão de entrar no estúdio não é comercial:
— O selo Bell’Anima tem gravado o que a gente acredita que vale a pena, aquilo que demonstra ter maior consistência para ser levado para um estúdio. A música é a nossa motivação.