No mês em que se completa um ano do início das medidas de distanciamento social no Brasil, o músico gaúcho Esteban Tavares veio a público compartilhar as dificuldades financeiras que tem enfrentado durante o período. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (17), o ex-integrante da banda Fresno falou a respeito da realidade dos profissionais da música em meio à pandemia.
— Está uma situação terrível. A gente depende do palco. Não só a gente, como as equipes, como os contratantes, como as equipes locais, e tudo isso foi atingido de uma maneira muito forte. E ainda tem o fato de que nós seremos os últimos a voltar porque a gente trabalha com aglomeração — afirmou Esteban, destacando que o apoio dos fãs é o que tem lhe ajudado a se manter.
— No início da pandemia, a gente acreditava que seria menor o tempo, que a nossa reserva financeira cobriria o tempo que a gente ficaria parado. Mas, quando chegou a um ano, a gente se vê totalmente, com o perdão da palavra, atolado, em casa, e sem trabalhar — completou.
Na terça-feira (16), dia em que completou exatamente um ano de seu último show com plateia, o músico usou sua conta no Twitter para relatar que teve a luz da residência em São Paulo cortada. Na postagem, Esteban definiu o momento como o "auge da pandemia".
— Ontem cortaram a minha luz em casa. Uma coisa que eu nunca passei em 20 anos, desde a época em que eu era menor de idade, tocava em bares de Porto Alegre e já morava sozinho. É uma coisa que nunca tinha acontecido comigo. (...) Ontem, quando eu vi que todas as reservas tinham acabado e chegou o que seria a CEEE aqui de São Paulo, eu realmente entrei em desespero: "Meu Deus, cara, eu tenho 20 anos tocando e eu nunca esperei que isso fosse acontecer" — desabafou o músico, frisando que, apesar das dificuldades, é inteiramente favorável ao isolamento social. — A gente entra naquela questão: não adianta sair para trabalhar e voltar doente pra casa e contaminar alguém, perder tua vida ou algum familiar.
Para se manter longe dos palcos, o roqueiro gaúcho tem investido em lives particulares e em uma iniciativa própria. Por meio do que batizou de Clube Esteban, o músico disponibiliza trabalhos inéditos e regravações aos fãs, mediante contribuições via Pix.
— Eu tenho um aspecto moral muito forte nisso, que é assim: não posso pedir dinheiro, porque eu tenho um trabalho a oferecer. Então, o que eu criei é o Clube Esteban, em que as pessoas que contribuem vão ganhar músicas inéditas todo mês, vão ganhar regravações acústicas todo mês e vão ganhar camiseta todo mês também. É o jeito que eu tenho de retribuir trabalhando a quem me ajuda — explicou, ressaltando que conseguiu sobreviver ao último ano graças a este apoio do público.
Esteban, que emprega uma equipe de pessoas, entre músicos e trabalhadores de apoio, destacou as dificuldades enfrentadas também por esses profissionais. Segundo ele, a situação de quem atua por trás dos holofotes, sem a visibilidade artística, é ainda mais delicada.
— A gente não tá numa situação boa, mas também não pode esquecer daquelas pessoas que trabalham com a gente porque eles não têm um perfil grande no Twitter, não têm um perfil grande no Instagram, eles não conseguem botar as angústias deles pra fora e conseguir ajuda do público. Então, isso também é uma responsabilidade nossa. Por menor que eu seja, comparado a grandes artistas brasileiros, eu não consigo tirar da cabeça a responsabilidade que eu tenho — disse o roqueiro, que também tem promovido campanhas de arrecadação em prol da equipe.
Em meio a um cenário de agravamento da pandemia no Brasil, aliado à lenta vacinação, o músico confessou que há momentos em que é difícil manter as esperanças. Sem perspectiva de uma retomada próxima de shows e espetáculos, Esteban espera por uma saída através da ciência.
— É literalmente rezar para que as coisas comecem a acontecer aqui no país. (...) A gente, o país inteiro, foi muito negacionista com isso em um certo momento e a gente tá pagando um preço muito alto.