Por Jéssica Barcellos, Especial
Ao mesmo tempo em que se transformou em um evento de transição para os adolescentes, sendo muitas vezes o local de debut dos jovens, o Planeta Atlântida também representa algo similar para artistas e grupos de diferentes partes do Brasil, principalmente do RS. O festival abriu portas para quem estava despontando no cenário musical, lançou tendências, reuniu diferentes estilos e consolidou a carreira de bandas que consideram o Planeta fundamental em suas trajetórias.
As oportunidades foram abertas principalmente em palcos e tendas alternativas montados com diferentes temas e estruturas a cada ano. Entre os destaques está o atual Palco Atlântida, que em edições anteriores também já foi chamado de Palco Voador e Palco Pretinho Convida. O local cresceu tanto que já não é mais considerado secundário.
— É um palco cada vez mais equilibrado dentro do conceito do festival, muitas vezes responsável por dividir o público, que tem a difícil tarefa de escolher a qual show irá assistir. E teve inclusive artistas que fizeram questão de tocar ali, como foi o caso dos Racionais MC’s, que lotaram o espaço em 2016 — conta Eugênio Corrêa, sócio da DC Set Group e um dos criadores do Planeta.
— É um palco que tem a informalidade que é tão característica do Planeta e que gera uma espontaneidade muito grande por parte dos artistas e estimula encontros musicais, como misturas de Tropkillaz & MC Bin Laden com Marcelo D2, além do Projota invadindo o show do CPM 22, e a apresentação do 3030 com participação da atriz e cantora Cleo Pires — completa Gustavo Sirotsky, diretor artístico.
Foi nessa estrutura que atrações como Vitor Kley, IZA, Onze20 e Criolo fizeram suas estreias no festival, tocando inicialmente para públicos menores e depois alcançando a grande massa planetária. Há, ainda, as atrações que, nesses 25 anos de história, já transitaram nos diversos ambientes do Planeta em diferentes momentos das suas carreiras.
Entre essas atrações estão as bandas Papas da Língua, Cidadão Quem e Comunidade Nin-Jitsu. Para saudar as bodas de prata do Planeta, integrantes dos grupos comentam a importância do festival em suas trajetórias:
Léo Henkin - Papas na Língua
— Em 1996, estávamos bem no começo e passar pelo festival foi como um rito de iniciação. Estávamos começando a aparecer com uma música pop que até então não se fazia muito no Brasil, e o Planeta já estava atento aos novos tipos de sons e artistas. Fomos recebidos com o maior carinho e respeito, sendo colocados pra tocar entre dois gigantes, os Titãs e a Fernanda Abreu. E o Planeta foi acompanhando o nosso crescimento. Quando voltamos ao festival, em 1999, já havíamos lançado o álbum Xá-La-Lá e tínhamos sucessos como Blusinha Branca. Foi quando vimos o público cantando todas as nossas músicas! Depois disso, passamos por tanta coisa em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, de uma maneira que o Planeta sempre acompanhou a evolução do Papas, assim como o Papas viu de perto o festival crescer.
Duca Leindecker - Cidadão Quem e Pouca Vogal
— A Cidadão Quem tem uma história que se cruza um pouco com a da rádio Atlântida, não só com a do Planeta, e ter participado do festival já na primeira edição acabou sendo como uma espécie de formatura. Lembro que a gente usava um pano no nosso cenário, com o nome da banda, que acabamos esquecendo, mas eu pedi pros caras da nossa equipe irem buscar. Ainda bem que eles foram, porque no dia seguinte ficamos muito felizes quando vimos a capa da Zero Hora com a nossa foto e o nosso nome bem grande. Teve um outro momento marcante, na última vez que tocamos, em 2014. A gente tinha dado uma pausa, para seguir alguns outros projetos paralelos, e tínhamos todo um planejamento de retorno da Cidadão. Infelizmente, a gente não conseguiu concluir, porque o Luciano acabou falecendo naquele mesmo ano, e o show no Planeta foi um dos últimos que ele fez.
Mano Changes - Comunidade Nin-Jitsu
— A banda também fez 25 anos agora, e os momentos máximos da nossa carreira tiveram a ver com o festival. A gente já abriu e já fechou o evento, já fez show surpresa, já tocamos com nomes como DJ Marlboro, Mr. Catra, Raimundos, Massacration, já homenageamos o Chorão, e já até apresentei o Planeta pela TV, na época da TVCOM. Mas, pra mim, o momento mais marcante foi em uma edição em Santa Catarina, naquele horário maravilhoso em que o show começa de dia e termina à noite. Estava lotado, chovia muito, e o retorno parou de funcionar. Eu não ouvia a minha voz, só a bateria e a guitarra, mas a gente decidiu seguir o baile e fizemos um show antológico. Era uma energia tão maravilhosa e tanta gente que as pessoas brincavam que a água não chegava no chão.