Maria do Céu Harris, que pede na Justiça o reconhecimento da união estável com João Gilberto, entrou nesta segunda-feira (17) com uma petição no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro alegando que não lhe permitem acessar o processo de interdição do compositor, do qual é parte envolvida. O documento provaria a relação e daria a Maria do Céu direito ao espólio do músico, morto no ano passado aos 88 anos.
Em 2017, João foi interditado pela filha Bebel Gilberto, sob a alegação de que não tinha mais condições de administrar a própria vida e a carreira. Céu, que foi intimada a participar do processo de interdição, afirma que, na ação, estão "confissões" que comprovariam sua união estável com o músico.
De acordo com o jornal O Globo, que teve acesso à petição, Maria do Céu poderia ser incluída no processo de espólio de João ao ter a união estável reconhecida pela Justiça. O que estaria em jogo não seriam bens, mas os direitos sobre a obra do músico.
Maria do Céu e João Gilberto se conheceram em 1984, quando ele tinha 53 anos e ela, 20. Natural de Moçambique, Céu desde então vive no Brasil, sempre morando em imóveis pagos pelo artista — mesmo nos períodos em que estiveram afastados.
Os últimos anos de João Gilberto foram marcados por dificuldades financeiras decorrentes de processos judiciais. O músico processou a gravadora Universal Music por esvaziar o patrimônio da EMI justamente para não lhe pagar os devidos créditos. Poucos meses antes de falecer, o artista venceu a ação em segunda instância.
"Prova diabólica"
Conforme o jornal O Globo, o advogado de Céu, Roberto Algranti Filho, chama a proibição de acesso da ex-companheira do músico aos autos de "prova diabólica":"O tribunal condiciona a participação de Maria do Céu à prova da união estável, mas o próprio tribunal a proíbe de acessar estas provas que estão na ação de interdição".
Outra informação que consta na petição, segundo o jornal, é que o juiz responsável por julgar a ação de reconhecimento da união estável, Andre Cortes Vieira Lopes, da 18ª Vara de Família, teria requisitado a cópia da interdição e o compartilhamento das provas, mas a juíza do processo de interdição, Claudia Nascimento Vieira, da 5ª Vara de Órfãos e Sucessões, teria negado.
No documento, a defesa de Maria do Céu questiona ainda a revogação, poucos meses antes da interdição, do testamento escriturado por João em 2003. Nele, o compositor determina que seus bens sejam partilhados entre os filhos João Marcelo Gilberto e Bebel (à época, sua caçula Luisa, filha de Cláudia Faissol, hoje com 16 anos, ainda não era nascida) e Maria do Céu. Em 2017, Cláudia teria conseguido a revogação do documento.