Não tinha dado certo. Após suas apresentações individuais, Harry Styles, Zayn Malik, Niall Horan, Louis Tomlinson e Liam Payne seriam eliminados do programa britânico X-Factor. Os jurados – em especial, Simon Cowell –, no entanto, acreditaram no potencial dos garotos. E se o quinteto voltasse competindo como banda? Bingo. Estava formada a boy band One Direction, que completa 10 anos nesta quinta-feira (23). E deu muito certo.
No reality show musical, a banda chegaria ao terceiro lugar. Na trajetória fora do programa, quebraria recordes e se tornaria um fenômeno pop. Segundo informações da gravadora Sony Music, o 1D vendeu mais de 200 milhões de discos em todo o mundo, com mais de 21 bilhões de plays em todas as plataformas de streaming. Foi tipo uma beatlemania dos anos 2010, com um empurrãozinho das redes sociais.
Aliás, a banda superaria os conterrâneos em algumas marcas: foi o primeiro grupo britânico a alcançar o primeiro lugar das paradas americanas com o álbum de estreia. Em 2015, bateu o recorde dos Beatles com o single Perfect, emplacando a quinta música a estrear direto no top 10 da Billboard em 10º lugar. Antes do 1D, os Beatles eram a banda com o maior número de estreias entre as 10 primeiras das paradas americanas, totalizando quatro – Hey Jude (1968), Get Back (1969), Let It Be (1970) e Free as a Bird (1995).
Com uma sonoridade que permeia o pop rock redondinho e as baladas românticas, o One Direction lançou cinco discos de estúdio: Up All Night (2011), Take Me Home (2012), Midnight Memories (2013), Four (2014) e Made in the A.M. (2015). Aliás, anota aí outra marca: com o Four, o 1D virou a primeira banda na história da Billboard a ter seus quatro primeiros álbuns de estreia em primeiro lugar.
Entre outros sucessos da banda, vale citar Story Of My Life, Live While We're Young (com aquela inspiração nos riffs de Should I Stay or Should I Go, do The Clash), Drag Me Down, Little Things e o animado primeiro single, What Makes You Beautiful – no Brasil, essa canção ganharia uma versão para celebrar o bar mitzvah do então jovem Nissim Ourfali e se tornaria um viral.
Quando começaram no One Direction, os cantores viviam o final da adolescência. Consequentemente, foram crescendo juntos: hoje Harry, Liam e Nial têm 26 anos, Zayn está com 27 e Louis, 28. Com o tempo, surgiram interesses diferentes.
Em 2015, Zayn deixou o grupo. No ano seguinte, o grupo entrou em um hiato, no qual permanece desde então. A partir daí, todos os membros lançaram trabalhos solos, com destaque especial para Harry Styles, que obteve um alcance maior: seus dois discos solo foram elogiados (um que leva seu nome no título, de 2017, e Fine Line, de 2019) e ele atuou em Dunkirk (2017), filme de Christopher Nolan que foi indicado a oito Oscar.
Mais de uma direção
Com músicas precisas e chicletes para o público adolescente, o One Direction personifica a performance do homem dócil – algo muito presente nas boy bands. Na época em que o One Direction surgiu, havia um espaço aberto para esse formato (apesar de já existir o The Wanted, que fez relativo sucesso). Conforme Thiago Soares, professor e pesquisador de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, o 1D aproveitou esse vácuo na indústria musical.
– Me parece que tem um fator importante que é o vácuo de boy bands da indústria americana atrelado à experiência de um grande produtor, o Simon Cowell – analisa Soares.
De acordo o pesquisador, outro fator importante para a centralidade do 1D foram os meios digitais (streaming e redes sociais). Hoje, o protagonismo nesses meios está sendo cada vez mais ocupado pelo k-pop, principalmente por conta da boy band BTS.
– Em 2010, há um primeiro momento da plataformização da música na cultura digital. Então, há uma força maior desses agentes globais. Nesse momento, ainda não havia uma força tão grande do k-pop, que também vai se consagrar no formato de boy band – sinaliza.
A fã e jornalista Letícia Pimentel Rech, 24 anos, corrobora. Para a porto-alegrense, o 1D surgiu em um momento em que outras bandas não conseguiram entender como conversar com o público e mantê-lo – como McFly e The Wanted.
– E eles conseguiram, com as músicas e os looks, juntar essas meninas que estavam circulando por esses fandoms. Acho que eles entraram, principalmente no Brasil, em uma época em que as adolescentes descobriram Londres e começaram a se interessar pela música e pela cultura. Lembra aquela fase "Londres, café, Tumblr"? Juntou tudo também – aponta.
Para a fã Larissa Prestes, 24, moradora de Butiá, o carisma e a naturalidade dos integrantes em shows ou entrevistas os aproximavam do público.
– Eles sempre me passaram uma sensação de proximidade, como se fossemos amigos. Não parecia ser algo forçado. E o fandom sempre devolveu esse amor em relação à banda em votações, em número de visualizações – comenta a auxiliar administrativa.
Essa proximidade é destacada pela estudante Vitória Parise, 22, natural de São Gabriel, mas atualmente morando em Santa Maria, onde cursa a faculdade de jornalismo na UFSM. Para Vitória, era possível acompanhar de perto o amadurecimento dos ingleses:
– Era muito bonito ver a evolução da banda a cada CD. Eles cresciam junto com a gente, e isso sempre foi muito especial.
Vitória aponta que uma das coisas mais importantes de sua experiência como fã de 1D são as amizades que criou no mundo online. No Estado, um dos principais grupos do Facebook sobre a banda era o 1D RS.
– Desde novinhas, criamos um laço por conta dos meninos (1D). Conforme fomos crescendo e amadurecendo, a amizade e o carinho seguiram firmes. Hoje sou muito próxima de várias meninas que conheci nessa época – relata.
Comemoração
Para comemorar a data, será lançado um site do 1D completamente novo. Com uma experiência interativa, a plataforma irá mapear a história do grupo e hospedará um arquivo de videoclipes, obras de arte, performances de TV, bastidores e conteúdos raros. Um novo vídeo de comemoração de aniversário também está previsto para a data. Além disso, os EPs reformatados serão lançados em plataformas de streaming, com lados B e músicas raras, remixes, gravações ao vivo e versões acústicas de faixas.