Jakson Follmann cresceu com dois sonhos: ser jogador de futebol e músico. Com o esporte, atuou como goleiro em clubes como Grêmio e Chapecoense. Foi quando integrava o clube catarinense, em 2016, que esteve presente no acidente aéreo que matou 71 pessoas, incluindo jogadores e a comissão técnica. Follmann não apenas sobreviveu como também renasceu. Aos 28 anos, agora ele começa a se dedicar a outra paixão, dando início à carreira de cantor, com foco no sertanejo raiz.
Nascido em Alecrim, no noroeste do Rio Grande do Sul, Follmann surpreendeu o Brasil ao vencer o reality show musical PopStar no ano passado. Mas não foi no programa a sua primeira apresentação pública como cantor: em janeiro de 2017, o ex-jogador participou do programa Encontro com Fátima Bernardes e cantou Flor e o Beija-flor, de Henrique e Juliano. Na ocasião, ele estava de cadeira de rodas e vestia uma bermuda que deixava exposta a amputação que sofreu na perna direta.
Antes de se dedicar ao futebol, Follmann cantou em alguns festivais de seu município. Há registros do cantor soltando a voz em um festival local aos sete anos.
— Toda minha família sempre gostou de cantar. Cresci ouvindo meus pais cantarem. Ali fui pegando gosto pela música. Algo de berço — relata.
Enquanto era jogador de futebol, ele tinha o violão como companhia nas concentrações. Suas apresentações se restringiam aos churrascos e círculos de amigos e familiares. Após o acidente aéreo, foi a música que o ajudou na recuperação. A canção gospel Raridade, de Anderson Freire, servia como alento para Follmann quando estava na UTI, após acordar do coma.
— Eu ficava muito agitado. Senti muitas dores. Meus familiares colocavam músicas para me acalmar — lembra.
Durante a recuperação, Follmann passou dias sem conseguir falar. Foi um momento de apreensão:
— Não sabia se ia conseguir voltar a cantar e a tocar meu violão. Isso me preocupava muito. A primeira canção que cantei foi Casa Amarela, do Guilherme e Santiago. A música foi essencial na minha recuperação.
Mais tarde, veio o convite para participar do programa Popstar. Follmann conta que ficou surpreso. A ficha só começou a cair durante o reality, em que comoveu o público já na sua primeira apresentação cantando Tente Outra Vez, de Raul Seixas. Segundo o cantor, foi uma oportunidade que ele buscou abraçar da melhor maneira possível.
— Vejo que meu maior concorrente naquele momento era eu mesmo. Eu não sabia me portar diante das câmeras e dos milhões de espectadores que assistiam. Não tinha experiência com palco e com programa de TV. Cada programa eu um desafio. Foi uma maratona. Pude me redescobrir fora do esporte, o que foi muito importante para minha vida — recorda.
Prosa e Violão
Vivendo em Chapecó (SC), Follmann passou a dar palestras pelo Brasil. Ele conta sobre sua recuperação e procura passar uma mensagem positiva. Com o produtor musical Ricardo Gama, ele entrou no estúdio para gravar músicas inéditas da sua turnê Prosa & Viola. A ideia era gravar também uma série mostrando a transformação de vida, desde o acidente, passando pelos campos e agora nos palcos. No entanto, a pandemia o fez segurar os planos.
Segundo Follmann, o plano é lançar no começo do segundo semestre um EP com quatro faixas: duas musicas inéditas e dois covers. O cantor não divulgou todas elas, mas garante que são canções que têm a sua identidade. Uma das inéditas será A Bola, que Follmann já apresentou em lives:
— É uma musica que conta a história de uma pessoa mais velha, em que ela acaba recordando o que não dava valor antes. É uma canção forte, com uma levada bacana.
Na turnê Prosa & Viola, Follmann planejava viajar por cidades do país realizando shows divididos da seguinte maneira: 80% de música e 20% de conversa com o público. Segundo o cantor, o repertório foi escolhido a dedo, com canções que têm identificação com a sua história. Ele adianta que entraria Tente Outra Vez, Raridade e A Flor e o Beija-flor, entre outras baladas que cantou no Popstar.
— Procurei pegar musicas que tenham algum sentido, que possam tocar o coração das pessoas. Transmitir as emoções que sinto para as pessoas que estiverem ouvindo se identificarem — destaca.
O ritmo que Follmann tem mais afinidade é o sertanejo raiz, enfatizando a presença da viola. Ele aprecia nomes como Renato Teixeira, Almir Sater, Milionario e José, Chico Rey e Paraná. Inclui também os dínamos do sertanejo romântico, Zezé di Camargo e Luciano, além dos contemporâneos Guilherme e Santiago.
Follmann planejava fazer seu show de pré-estreia em abril, em São Paulo. A partir daí, seguiria em turnê. Porém, a pandemia o fez segurar os planos. O cantor admite sentir um pouco de ansiedade, pois o projeto estava encaminhado em sua fase final.
— Quero me entregar com a alma a esse projeto, mas não posso ficar pilhado, me deixar levar pela ansiedade. Com muita responsabilidade, as coisas acontecerão ao natural. Independente se vai dar certo ou não o projeto, minha intenção é cantar as minhas verdades com o coração — comenta.