Uma inusitada junção das músicas gaúcha e baiana resultou em um dos melhores lançamentos do ano, o disco Tertúlia Visceral, gravado por dois dos mais renomados artistas dos dois Estados: o gaúcho Pedro Ortaça, 77 anos e o baiano Bule Bule, nome artístico de Antônio Ribeiro da Conceição, 72 anos.
O começo desse projeto se deu há cinco anos, quando a produtora cultural Carla Joner foi curadora do projeto Visceral Brasil, que realizou pequenos documentários sobre 13 mestres da cultura popular brasileira. A semelhança da história de vida e da arte produzida pelo baiano e pelo gaúcho chamou atenção da produtora, que decidiu reuni-los no palco. Ela, então, propôs uma espécie de desafio, no projeto que leva o mesmo nome do disco: o que poderia acontecer se um cantor das Missões fosse visitar o berço de um repentista nordestino?
O resultado da ideia foi um disco de vinil, com tiragem limitada (mil exemplares,R$ 100 preço médio), aprovado pelo programa Rumos Itaú Cultural, composto de faixas únicas (uma de cada lado). Nelas, se misturam conversas dos músicos e brincadeiras, intercaladas por partes das músicas.
— Neste trabalho, unimos o Rio Grande do Sul com a Bahia. Ficou muito bom, gostei, principalmente pela integração do Nordeste com o Rio Grande do Sul — afirma Ortaça.
Lançamento
O primeiro encontro da dupla, que não se conhecia pessoalmente, foi em Brasília, em 2017, no palco, quando eles fizeram um show juntos. Naquele espetáculo, os artistas apresentaram repertórios próprios com suas bandas, e apenas no final de cada show havia um momento de troca entre eles.
Em outubro de 2018, Bule Bule recebeu Pedro Ortaça no seu chão, em Camaçari, na Bahia.
— Foi muito interessante andar por lá. Vi de perto a autenticidade daquele povo. E ele faz questão de divulgar as raízes da Bahia — relembra Ortaça.
Um mês depois, foi a vez de Ortaça receber o parceiro baiano em São Luiz Gonzaga, onde apresentou a ele o coral de índios guaranis, nas Missões.
— E ainda fizemos um show na praça central de São Luiz Gonzaga, estava lotada — comenta Ortaça.
Já Bule Bule, durante os encontros, ressaltou a importância da união entre as duas culturas. E fez elogios ao parceiro gaúcho, comparando Ortaça a Luiz Gonzaga (1912-1989).
— Cantor igual esse só nosso Rei do Baião (apelido de Gonzaga). Ele é um grande defensor da cultura — afirmou Bule Bule.
A ideia dos artistas é que, em 2020, o espetáculo seja apresentado em Porto Alegre, preferencialmente – claro – no Theatro São Pedro, confessa Ortaça.
Em outubro deste ano, a dupla apresentou, em São Paulo, o show de lançamento do disco.
— Colocaram um telão, mostrando nossas andanças pela Bahia, pelas Missões. A gente ficava proseando, cantando, foi muito lindo. E me pediram para cantar Bailanta do Tibúrcio (um dos clássicos do cancioneiro gaúcho) — comemora o gaúcho.
Agora, a expectativa é de que o disco seja lançado na capital gaúcha.
— Queremos que o Bule Bule venha para Porto Alegre, para que possamos apresentar esse espetáculo aqui. E que eu também vá para lá — finaliza Ortaça.