Uma das figuras mais ativas (e criativas) da música brasileira, Ney Matogrosso nunca tinha ficado tanto tempo na estrada. Aos 77 anos, o sul-mato-grossense passou inéditos cinco anos em turnê com o show Atento aos Sinais – que apresentou um repertório quase premonitório sobre as mudanças sociopolíticas pelas quais o Brasil passou entre 2013 e 2018. Agora, o cantor volta a Porto Alegre para mostrar seu novo espetáculo, Bloco na Rua, sexta-feira e sábado, no Auditório Araújo Vianna.
Sob uma pele dourada de tricô metalizado criada pelo estilista paraense Lino Villaventura, Ney surge no palco como uma espécie de réptil sagrado ao som de uma versão hipnótica de Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua, sucesso de 1972 na voz de Sérgio Sampaio.
Performático, como é de sua natureza, o cantor impacta visualmente e arranca gritinhos da plateia ao revelar seu rosto por baixo da roupa exótica – antes de enfileirar músicas como A Maçã (de Raul Seixas), Feira Moderna (Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant) e Como Dois e Dois (Caetano Veloso). Talvez o intérprete que mais empreste sua personalidade às composições que canta, Ney abriu mais espaço do que nunca para músicas que fizeram sucesso com sua voz: estão no repertório Mulher Barriguda, do primeiro álbum dos Secos e Molhados (1973), O Beco, composição dos Paralamas do Sucesso gravada por Ney em 1989, e Postal de Amor e Ponta do Lápis, registradas ao lado de Fagner no compacto lançado pela dupla em 1975.
– Desde o início, determinei que não estaria preocupado em cantar nada inédito. Pela primeira vez, abri um pouco mais de espaço para o meu repertório. O que renovou minha empolgação e se apresentou como novidade neste show é que, desde o primeiro dia, na primeira música, todo mundo canta junto. Eu não tenho isso de conversar, de ficar pedindo para bater palma, tirar o pé do chão, mas aconteceu. São músicas muito conhecidas – comemora o cantor, em entrevista por telefone.
Repertório político montado por acidente
Com uma banda composta por Sacha Amback (direção musical e teclado), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), Mauricio Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone), Bloco na Rua é sonoramente impactante. Tal peso pode ajudar a engrossar a carga política (ou interpretações desse tipo) no repertório – algo muito presente em Atento aos Sinais, mas que Ney prefere tratar com prudência.
– Fiz o repertório antes deste momento. Não tinha Bolsonaro, não tinha nada. As pessoas dizem que é um repertório político, mas penso que é político para qualquer momento – explica.
Ney Matogrosso
Sexta-feira e sábado, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685).
Ingressos: R$ 150 (plateia baixa lateral e plateia alta lateral) e R$ 250 (plateia alta central, plateia baixa central e plateia gold), com 50% de desconto para sócio do Clube do Assinante (somente na estreia, para vendas na bilheteria e limitado a cem ingressos) ou 10% (para demais ingressos). Pontos de venda: bilheteria do Teatro do Bourbon Country – Av. Túlio de Rose, nº 80, segundo andar (sem taxa), bilheteria do Araújo Vianna a partir das 19h (sem taxa) ou pelo site uhuu.com (com taxa).