Aos primeiros acordes de A Flor, que os barbudos de Los Hermanos escolheram para abrir sua volta aos palcos de Porto Alegre, o show já parecia ganho. Os 5,5 mil fãs vibraram e cantaram junto, com fervor, a canção de 2001, anunciando o que se repetiria ao longo de duas horas e quase 30 canções na noite deste sábado.
Marcelo Camelo (voz, guitarra e baixo), Rodrigo Amarante (voz, guitarra e baixo), Bruno Medina (teclados) e Rodrigo Barba (bateria) surgiram no palco por volta das 22h, diante de um Pepsi on Stage quase cheio, e fizeram um passeio generoso por sua discografia. Ofereceram ao público praticamente metade das 55 faixas que compõem o repertório de seus álbuns de estúdio. Houve espaço até para Anna Júlia, o megahit que apresentou os cariocas ao Brasil e com o qual eles nem sempre tiveram uma relação amistosa. A novidade ficou por conta de Corre Corre, single recém-gravado pelo grupo.
A plateia, em parte formada por trintões e quarentões que se apaixonaram pela banda nos anos de juventude, mas também por fãs mais recentes, mostrou-se empenhada em matar a saudade. Desde que anunciou um hiato, depois de lançar quatro álbuns entre 1999 e 2005, Los Hermanos fizeram apenas algumas reuniões esporádicas, e não tocavam em Porto Alegre desde 2015. A turnê deste 2019, que marca os 20 anos do primeiro disco da banda, já havia passado por Salvador, Fortaleza, João Pessoa, Brasília, Vitória, Rio de Janeiro e Curitiba.
Depois de A Flor, o quarteto emendou Além do que se vê e Retrato para Iaiá, podendo sempre contar com os pulos, os braços no ar e o coro do público, que já começava a cantar antes mesmo de Amarante e Camelo, mas a primeira grande explosão ocorreu com O Vencedor, uma preferida da tribo hermana.
O show, de iluminação discreta, as vezes monocromática, e imagens da banda em preto e branco nos telões, seguiu com O Vento, Todo o Carnaval tem seu fim e Condicional, quando Camelo se dirigiu pela primeira vez à plateia:
— Obrigado. Obrigado por sempre virem cantar coma gente. Vamos tocar uma música nova. Ajuda aí.
Foi a senha para Corre Corre, uma rara adição recente ao cancioneiro da banda, novidade com a qual o público não parecia familiarizado — tendo dificuldade em atender ao pedido de ajuda do vocalista. O público voltou a terreno conhecido e confortável com Primeiro Andar, lançada há 15 anos.
Em uma viagem para ainda mais longe, 2003, veio A Outra, que o público, principalmente o feminino, segurou sozinho por alguns versos, quando Camelo silenciou e deu-lhe a vez. Em Morena, a voz dele se confundiu, praticamente do início ao fim, com a do público.
Sentimental, com voz de Amarante, mereceu telefones iluminados dançando sobre as cabeças.
O espetáculo tem uma forte presença de sopros, a cargo de músicos de apoio, que abriram Tenha Dó, resgatado do primeiro disco da banda, de 1999. Agitado e barulhento, o tema fez os fãs pularem e cantarem com sorrisos no rosto. Com o show a meio e uma hora já de musica, o quarteto continuou a incursão pelas guitarras pesadas do álbum de 20 anos atrás, culminando, na 18ª peça da noite, com Anna Julia.
A0 fim da 24ª, Conversa de Botas Batidas, Marcelo Camelo, a essa altura com pesados óculos de grau, anunciou o fim da apresentação, homenageou a equipe, rememorou os 20 anos de estrada e falou da alegria de voltar à Capital com Los Hermanos:
- Vocês gostaram? Aqui em Porto Alegre a gente construiu no comecinho uma história linda, e toda vez que a gente veio vocês vieram, trouxeram mais amigos, estão sempre aqui com essas caras lindas. Muito obrigado.
Ainda havia pela frente as canções o bis, um último bálsamo para uma irmandade de fãs fiéis, incertos se haverá nova oportunidade de ver sua banda favorita unida em cima de um palco.