Lançada em 1973, dentro da obra-prima The Dark Side of the Moon, a música Us and Them é um melancólico hino contra a guerra. As letras de Roger Waters separam "nós", os homens comuns, de "eles", os poderosos. Quarenta e cinco anos depois, o ex-baixista e cantor do Pink Floyd resgatou a canção no nome da turnê que levou a oito cidades brasileiras neste mês. Na apresentação que gira o mundo desde maio de 2017, Waters nomeia inimigos mundo afora, de Donald Trump a Mark Zuckerberg, levanta a bandeira dos direitos humanos e incita o público a protestar. No Brasil, o músico inglês fez tanto barulho que acabou tornando-se coadjuvante das eleições.
O show da turnê Us + Them, terceiro que o músico traz a Porto Alegre, é parte manifesto, parte apelo por mais empatia no mundo. Para transmitir essa mensagem, Waters criou um show grandioso que é tanto música quanto teatro e cinema. Mais de cem toneladas de equipamentos, que viajaram em 25 carretas, compõem a megaestrutura, que inclui um palco de mais de 1.000 metros quadrados e um telão de LED de 790 metros quadrados. Com cerca de 2h30min de duração, o repertório é quase todo formado por músicas de quatro discos do Pink Floyd: The Dark Side of The Moon, Wish You Were Here, Animals e The Wall.
Zero Hora viu o show em Roma, em 14 de julho. No Circo Massimo, antiga área de corrida de bigas convertida em arena de shows, os fãs até tentaram dançar, mas sem sucesso. Us + Them é feito para levar o público a uma viagem introspectiva, alternando músicas indignadas e imagens fortes, como o rio de sangue em Welcome to the Machine, com momentos doces, como quando a plateia canta junto Wish You Were Here, uma homenagem ao amigo Syd Barrett (1946 – 2006). A primeira cena fascinante surge logo no início: ao som dos acordes de Breathe, o local se converte em uma espécie de IMAX com a visão do planeta Terra no espaço. O som é tão fiel a The Dark Side of the Moon que, se você fechar os olhos, vai pensar que David Gilmour está ali cantando, ao invés do guitarrista Jonathan Wilson, com quem Waters divide os vocais ao longo do show. The Great Gig in the Sky é o momento das cantoras Jess Wolfe e Holly Laessig, do grupo indie Lucius, brilharem: diante do céu estrelado no telão, elas cantam em perfeita harmonia os vocais de Clare Torry que marcaram a história do rock.
Quem conferiu a turnê The Wall Live (que passou pela Capital em 2012), voltará a ver uma turma de crianças marchando e cantando Another Brick on the Wall. A principal novidade fica por conta do álbum Is This the Life We Really Want?, lançado no ano passado, na qual Waters aborda a crise dos refugiados (The Last Refugee), o terrorismo (Smell the Roses), guerras com drones (Déjà Vu) e certa insanidade generalizada (Picture That).
Em sua segunda parte, após um intervalo de 20 minutos, a apresentação fica especialmente teatral: Waters aparece algemado enquanto o telão mostra cenas de tortura. Em Dogs, a icônica fábrica da capa do disco Animals surge gigantesca no telão, com direito a quatro chaminés expelindo fumaça e porco inflável de 6m x 10m. Pigs (Three Different Ones) é um ataque direto a chefes de Estado de todo o mundo, mas especialmente a Donald Trump, bastante ridicularizado.
Quem ainda não estava impressionado com o arsenal de efeitos especiais, encanta-se com Brain Damage e Eclipse, quando um globo prateado flutua acima do público, refletindo-o, e lasers recriam o prisma da capa do álbum The Dark Side of the Moon.
Waters comanda um espetáculo ensaiado à perfeição, mas tão grandioso que é fácil distrair-se com o telão e esquecer que há uma banda de verdade ali. No bis, o músico finalmente se aproxima do público, para tocar Mother, ao violão, e fazer um discurso político. Na Itália, falou da crise dos refugiados. Em Porto Alegre, a expectativa é que mire em seu mais novo inimigo eleito, Jair Bolsonaro.
* A repórter viajou a convite da produtora Time for Fun.
ROGER WATERS – US + THEM TOUR
- Terça-feira (30/10)
- Estádio Beira-Rio (Av. Padre Cacique, 891)
- Abertura dos Portões: 17h
- Show de abertura com Renato Borghetti: 19h30min
- Show de Roger Waters: 21h
- Capacidade: 48.517 pessoas
- Classificação etária: 16 anos. Menores com idades entre 10 e 15 anos apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais.
- Ingressos: R$ 360 (pista), R$ 500 (cadeira inferior), R$ 765 (pista premium elo) e
- R$ 1,5 mil (vip lounge, à venda apenas pelo site). Os setores cadeira superior e cadeira premium estão esgotados.
- Ponto de venda sem taxa: Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country (Av. Tulio de Rose, 80 – 2º andar, a partir das 10h).
- Ponto de venda com taxa: ticketsforfun.com.br.