De Catolé do Rocha, no interiorzão da Paraíba, vem um: baixinho, enérgico, cabelos espevitados e aquele balanço típico dos melhores músicos nordestinos. De Pelotas, no interiorzão gaúcho, vem o outro: cabelos grisalhos lisos, alto, nariz pontiagudo e a paz típica daqueles que aprenderam a economizar energia durante as temporadas de frio. Chico César e Vitor Ramil têm, à primeira vista, poucas semelhanças – mas a ideia é facilmente dissipada no primeiro contato que se tem com ambos, principalmente se estiverem juntos, como estarão em quatro shows neste fim de semana: os primeiros três no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, e o quarto no Theatro Guarany, na cidade natal de Ramil.
– Nosso canto parte de nossas aldeias, mas não nos prendemos a elas – especula o catoleense César, em entrevista por e-mail, antes de aprofundar-se na teoria:
– Somos subversivos no amor à aldeia. E isso nos torna livres. Se pudemos nos libertar de nosso lugar, podemos nos libertar de tudo e a tudo amar. Não nos considero regionais nem regionalistas. Nos universalizamos cedo ao dessacralizarmos signos regionais e conseguimos desenvolver liberdade em relação aos padrões regionalistas e de mercado. Queremos mostrar nossas canções, a melhor tradução dessa liberdade – diz, transformando as notáveis diferenças entre dois dos grandes artistas nacionais em pontos de partida para destinos semelhantes.
Em Porto Alegre e Pelotas, Chico e Vitor vão retomar uma parceria que dura duas décadas: seja nas carreiras musicais ou em suas incursões na literatura, volta e meia os dois se pecham – para usar expressão corrente na região de Ramil. Os dois fizeram um show em dupla, por exemplo, no evento de inauguração do Santander Cultural, em 2001. Em 2014, o paraibano interpretou canções do gaúcho em apresentação do projeto Unimúsica. Agora, voltam a se encontrar em dois dos grandes palcos do Estado:
– Conheci Vitor ouvindo Ramilonga, que eu gosto muito. Era meu álbum de cabeceira e, a partir daí, nos tornamos amigos e formamos uma parceria muito bacana. No palco seremos só nós dois e nossos violões. Especiais são as pessoas que virão presenciar e energizar esse encontro – explica Chico.
No repertório, que deve ser intercalado com as naturais conversas entre os amigos, serão apresentadas faixas como Os Trens, parceria inédita em que Chico escreveu a letra e Vítor compôs a melodia, e Olho D’Água, Água D’Olho, que segue a lógica contrária e foi gravada em Campos Neutrais, disco mais recente de Vitor.
Sobre o restante do show, Chico César responde com um toque virtual bem-humorado:
– O resto é surpresa ;)