Porto Alegre é uma parada prazerosa para Milton Nascimento em suas andanças pelo mundo. Um marco fundamental do seu começo de carreira foi firmado na Capital, em 1966, quando participou da eliminatória local do Festival da TV Excelsior, com Cidade Vazia, canção de Baden Powell e Lula Freire.
– Pouquíssimas pessoas sabem disso. E foi uma coisa única, muito forte. A partir daquele momento, Porto Alegre passou a fazer parte da minha vida. Lembro até hoje de quando estava aí disputando a eliminatória para o festival e recebi a notícia de que tinha passado para a fase seguinte – lembrou a ZH, em uma de suas passagens pela cidade, em 2017.
Milton está de volta. Faz hoje sua terceira apresentação no Auditório Araújo Vianna desde que retomou a estrada, no começo do ano passado, após uma prolongada temporada cuidando da saúde em Juiz de Fora, no interior mineiro. E chega com novidade. Junto com o espetáculo Semente da Terra, promove seu mais recente disco, o EP com seis faixas A Festa, lançado há uma semana nas plataformas digitais, no qual faz uma releitura, em voz e no violão de Wilson Lopes, de sucessos como Canção da América e O Cio da Terra, parcerias com Fernando Brant e Chico Buarque, respectivamente. O espetáculo, porém, não segue o modelo adotado para o álbum.
– Vamos fazer esse show com a minha banda completa e, além dos sucessos que as pessoas gostam de ouvir, fizemos algumas modificações no setlist – destaca Milton em conversa por e-mail. – Tudo pensado com muito carinho para agradar os fãs. Gosto de dizer que o meu maior combustível é a amizade, sem isso nada seria possível. E esse show, Semente da Terra, representa bem isso. Além do meu filho, Augusto Nascimento, que também é meu empresário, essa turnê é toda formada por amigos. Desde a banda, ao pessoal de produção, da técnica, todo mundo aqui é muito próximo.
O artista é acompanhado por Wilson Lopes (violão), Beto Lopes (violões), Lincoln Cheib (bateria), Alexandre Ito (contrabaixo), Kiko Continentino (piano), Widor Santiago (sopros) e Bárbara Barcellos (vocais).
Se, em 2017, Milton voltou aos palcos celebrando 75 anos de vida e 50 anos de seu primeiro disco, o que traz a clássica Travessia, a efeméride que destaca agora são os 40 anos de uma de suas canções mais emblemáticas, Maria, Maria, que está no disco acústico e ganhou um videoclipe estrelado por um time de cantoras e atrizes, entre elas Zezé Motta, Camila Pitanga e Sophie Charlotte. Sua parceria com Fernando Brant, gravada em Clube da Esquina 2 (1978), segue reverberando temas como a força feminina e a permanente luta por igualdade de direitos.
– Não sou muito de analisar as coisas que faço, prefiro mesmo é quando as pessoas me contam aquilo que sentem com a minha música. Esse tipo de comparação fica melhor quando vem dos fãs, dos críticos e dos interessados na minha obra. Mas me deixa muito feliz saber que uma música feita há 40 anos ainda continua tocando as pessoas – diz Milton.
Engajado em questões como preservação ambiental e demarcação de terras indígenas, Milton foi uma das mais ativas vozes, como artista e cidadão, no processo de redemocratização do Brasil, nos anos 1980. Em meio à expectativa pela eleição de 7 de outubro e à extrema polarização política que o país vive, sintetiza seu sentimento:
– Olha, tá tudo muito esquisito. Mas não só no Brasil, o mundo todo tá esquisito. E, diante disso, só nos resta mesmo uma coisa: esperança.
Milton Nascimento – Semente da Terra
Sexta-feira (28), às 21h. Duração prevista: 90min.
Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685).
Ingressos: R$ 80 (plateia alta lateral), R$ 100 (plateia baixa lateral), R$ 140 (plateia alta central), R$ 180,00 (plateia baixa central), R$ 200 (plateia gold). Sócios do Clube do Assinante têm 50% de desconto nos primeiros cem ingressos e 10% nos demais. Meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos. Venda sem taxa: bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, nº 80, 2º andar) e, a partir das 16h, bilheteria do Araújo Vianna. Venda com taxa: site uhuu.com.