Uma atração internacional abre oficialmente a programação 2018 do Theatro São Pedro. Depois de alcançar quase 28 milhões de visualizações de seus vídeos no YouTube desde 2008, a violonista clássica bielorrussa Tatyana Ryzhkova chega à Capital para realizar um recital nesta segunda-feira (5/3), a partir das 21h. Nesta entrevista concedida a Zero Hora por e-mail, Tatyana defende que a música de concerto precisa estar aberta às novas tecnologias para renovar seu público e garante que não é mais necessário assinar contrato com um selo de prestígio para ser bem-sucedida no meio erudito.
Está se tornando cada vez mais comum ver músicos de concerto com canais no YouTube, mas a indústria da música clássica ainda se apoia muito em meios de validação tradicionais, como resenhas na imprensa especializada e contratos com grandes selos. Como você percebe essas duas maneiras de medir o sucesso no universo da música de concerto?
Sim, você está certo. Hoje, os canais de música clássica no YouTube se tornaram muito populares, mas em 2008, quando começamos, éramos um dos raros canais desse tipo. Acredito que passou o tempo em que só era possível ter sucesso na música se você tivesse um contrato com uma grande gravadora. A internet dá aos músicos liberdade e possibilidades para encontrar nosso caminho para o sucesso. Alguns anos atrás, se você quisesse produzir um CD bem-sucedido, só poderia fazê-lo com um grande estúdio profissional e você precisava assinar um contrato com eles. Hoje, mais e mais músicos, inclusive na música clássica, produzem CDs por conta própria em seus estúdios caseiros e ainda são bem-sucedidos sem contratos e sem selos. Hoje, temos muito mais independência como músicos e acho que isso é realmente ótimo. Claro que, por trás de cada grande selo há uma grande máquina de marketing que pode ajudar você a obter sucesso em um tempo muito curto. Por outro lado, essa grande máquina de marketing leva à perda da sua independência de certa forma. Claro que o sucesso na realidade e na internet podem ter diferentes faces. Atualmente, a música clássica sofre com um público limitado. O público diminui e fica mais velho. A nova geração prefere procurar música na internet. Se os músicos clássicos quisermos manter nosso público ou aumentá-lo no futuro, precisamos usar as novas tecnologias.
No Brasil, o violão é um instrumento musical muito difundido, pois é utilizado na música popular. Mas o violão como instrumento de música de concerto não é igualmente popular, exceto perante o público da música clássica. O que deve ser feito para o violão clássico se tornar mais conhecido e alcançar um público maior?
Essa triste tendência é típica não apenas no Brasil mas em muitos outros países. O problema é que os violonistas clássicos gostam de permanecer muito conservadores. Conservadores no modo como tocam, no modo como escolhem o programa, no modo como apresentam a música. Esse jeito conservador não traz muitos amigos para o violão clássico. Acho que a solução é ter a mente aberta, fazer programas realmente interessantes com músicas empolgantes, e não músicas que ninguém ou apenas poucos músicos profissionais entendem. Alguns anos atrás, teve um comentário em um de meus vídeos mais vistos, o da Fuga, de Bach (da Sonata nº 2, BWV 1003). Eu estava usando uma roupa branca, meu cabelo estava solto e eu sorria enquanto tocava porque estava muito feliz naquele momento. O comentário era: "Você precisa se vestir de preto, seu cabelo não deve estar solto e, por favor, não sorria! Você toca uma música muito séria!". Esse é exatamente o problema.
Quais são os violonistas que costumava ouvir quando começou a tocar? E que outros gêneros de música você ouve?
Quando eu era criança e comecei a tocar violão, ouvia Paco de Lucía, Andrés Segovia, música cigana e também música tradicional russa. Hoje, não tenho compositores ou músicos preferidos. Gosto de música boa, sincera, e isso se encontra em qualquer gênero ou época. Não importa quem ou quando escreveu, é aquele momento perfeito em que a música toca a sua alma.
Que violonistas clássicos você está ouvindo no momento? Acredita que o violão está ganhando cada vez mais prestígio dentro da música de concerto?
Nos últimos anos, estou em uma fase de música espanhola e latino-americana. Essa é a música que toca minha alma no momento. Tárrega, Villa-Lobos, (Jorge) Cardoso, Albéniz – estes compositores estão na minha playlist. Você perguntou se eu acho que o violão clássico se tornará popular dentro da música clássica. Seria realmente demais e eu espero que sim! Pelo menos estou trabalhando duro para que isso se torne realidade.
Você já gravou composições de Villa-Lobos e João Pernambuco. Poderia comentar sobre seu interesse na música brasileira?
Na minha fase de música espanhola e latino-americana, claro que não poderia deixar de fora de meu programa a música brasileira. Gosto da música brasileira por sua brilhosa simplicidade. Parece ser bastante simples, mas na verdade há tanta profundidade emocional. É por isso que sou fascinada por ela, que me lembra a música russa.
Programa do recital:
- Capricho Árabe, de Francisco Tárrega
- Tristorosa, de Villa-Lobos
- Malagueña, de Ernesto Lecuona
- Milonga, de Jorge Cardoso
- El Choclo, de Ángel Villoldo
- The Stream, de Alexander Vlassenkov
- Incantation nº 2, de William Lovelady
- Mallorca, de Isaac Albéniz
- Son, de Eduardo Martin
- Un Dia de Noviembre, de Leo Brouwer
- Fantasia sobre Motivos de “La Traviata”, de Tárrega
Tatyana Ryzhkova
Nesta segunda-feira (5/3), às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 60 (galerias), R$ 80 (camarote lateral), R$ 100 (camarote central) e R$ 120 (plateia). À venda na bilheteria do teatro, das 13h até a hora da apresentação ou pelo site vendas.teatrosaopedro.com.br.