Na noite de 19 de abril, eu e minha namorada éramos parte da multidão que deixava a Rod Laver Arena e tentava encontrar um bar aberto em Melbourne, na Austrália. Na minha cabeça, um pensamento: o Black Sabbath precisa acabar.
Havíamos acabado de assistir ao show da The end tour, que chega hoje a Porto Alegre. Naquele dia, na Austrália, eu completava 35 anos. E decidi me dar de presente o show da banda que mudou a minha maneira de ouvir música. Fui de coração aberto e bolsos vazios.
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O set list era velho conhecido. A maior parte eu havia escutado em 2013 em Porto Alegre. Mas, quando a introdução de Black Sabbath ressoou, senti o estômago gelar – e não era da cerveja que bebia. O que era aquela figura de preto apontando para mim? Ao invés de me virar e correr, fiz o que todos que estavam ali fizeram: ergui os punhos cerrados e gritei em saudação. Era o início do fim, ali, na minha frente.
O que se seguiu foi uma luxuosa aula aberta de história musical. Concentrando-se apenas nos seus primeiros discos, o Black Sabbath enfileirou canções que sedimentaram a base da música pesada e são referências incontestáveis, como Fairies wear boots, Snowblind, War pigs, Iron man e N.I.B. Todas cantadas a plenos pulmões pelas 13 mil pessoas que estavam na arena australiana.
No palco, Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler davam tudo de si. Ozzy não parava de falar com a plateia e fazer piadinhas com seus parceiros, enquanto Tony distribuía sorrisos e Geezer mantinha a elegância que lhe é peculiar. Era emocionante ver o trio reunido no mesmo palco e presenciar a energia que ainda corre entre eles.
Mas, em dado momento, por mais que se esforçassem, ficou notável a ação do tempo e do passado de excessos. Apesar do set list curto, na metade do show, Ozzy começou a confundir trechos de algumas letras e Tony pareceu ter se esquecido de como tocar partes de outras. Um pouco antes do bis, o cansaço do trio era evidente e, talvez para poupar os parceiros, o solo de bateria de Tommy Clufetos em Rat salad foi estendido para quase 10 minutos.
Encerrando com Paranoid, o Black Sabbath me mandou para casa em êxtase e ao mesmo tempo melancólico. No telão, a inscrição "The End", com a imagem da Terra pegando fogo, fazia todo o sentido. A banda havia iniciado um incêndio no mundo quando criou o heavy metal no final dos anos 1960, mas era hora de parar. Em entrevista à revista Metal Hammer, em setembro de 2014, Ozzy já tinha dado a morta:
– O tempo não está do nosso lado.
Se as drogas, brigas, trocas de formação, discos ruins e ostracismo mercadológico não tinham conseguido matar o Sabbath, do tempo eles não escapariam. Ozzy, Tony e Geezer tomaram a decisão enquanto ainda lhes sobra dignidade no palco. Salvo algum milagre da medicina, esta noite será o baile de encerramento da banda em Porto Alegre. E eu não perderei por nada.
BLACK SABBATH
Hoje, às 21h.
Classificação: 15 anos (entre 10 e 15 somente acompanhado dos pais ou responsáveis).
Abertura dos portões: 16h.
Banda de abertura: Krisiun, às 19h30min. Banda convidada: Rival Sons, às 20h. No Estacionamento da Fiergs (Assis Brasil, 8.787).
Ingressos: R$ 320 (pista) e R$ 560 (pista premium).
Ponto de venda: no local a partir das 10h.