Toda semana, um jornalista do Grupo RBS irá compartilhar na seção O que Estou Lendo a sua paixão por livros por meio de dicas do que estão lendo no momento.
Bambino a Roma, o mais novo livro de Chico Buarque, parece o início de uma autobiografia que começa pelo momento em que o menino, mareado pela viagem de navio, desembarca com a família para uma temporada na capital italiana, mas é ficção. Ficção da melhor qualidade, para quem gosta de ternura e inocência. Ingênuo, dirão os que não conseguem perceber a grandeza de uma infância que corre pelas vias de Roma.
É o mais doce dos livros de Chico, não necessariamente o melhor para quem prefere a complexidade linguística de Budapeste, a tensão de Anos de Chumbo ou a amargura da decadência de Leite Derramado.
Chico trilhou as ruas de Roma já adulto, no início da ditadura militar, mas narra esses dois anos entre a infância e a pré-adolescência (1953-1954) como se tivesse descoberto a cidade em sua bicicleta niquelada, como um menino de Fellini ou de Antonioni.
Volta ao Brasil das praias ensolaradas e salta no tempo até refazer os caminhos daquele bambino, já beirando os 80 anos, sua idade de hoje, consagrado como artista, em busca de um elo perdido. Sem rancor, sem autopiedade, apenas nostálgico. Bambino é, na prosa solitária, o que o João e Maria foi em versos no dueto com Nara Leão.
Bambino a Roma
- De Chico Buarque.
- Companhia das Letras
- 168 páginas
- R$ 70 (impresso) e R$ 30 (e-book)