Em mais um ano, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro encantaram a Marquês de Sapucaí. Após o resultado da apuração das notas do Carnaval 2024, seis agremiações do Grupo Especial voltam à avenida para o Desfile das Campeãs neste sábado (17), com transmissão ao vivo pelo canal pago Multishow, a partir das 21h30min.
Os desfiles ocorrerão na ordem inversa das colocações. Isso significa que o evento começará com a Vila Isabel e encerrará com a grande campeã, Viradouro. Ainda passarão pela Sapucaí Imperatriz Leopoldinense (2ª colocada), Grande Rio (3ª), Salgueiro (4ª) e Portela (5ª).
Um dos pontos altos do Carnaval deste ano foram os sambas-enredo com inspiração em livros. Entre as seis campeãs, quatro usaram histórias de ficção e não ficção para montar suas composições e alegorias.
Portela e "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves
A Portela levou para a avenida o samba-enredo Um Defeito de Cor, inspirado na obra de Ana Maria Gonçalves, em homenagem às mulheres negras. O romance histórico, lançado em 2006, recria a trajetória de Kehinde, que, quando criança, é sequestrada do Reino de Daomé e levada para a Bahia como escravizada. A personagem principal é inspirada em Luisa Mahim, heroína da Revolta dos Malês e mãe do abolicionista Luiz Gama. A protagonista perpassa décadas de construção da sociedade brasileira a partir de suas vivências, marcadas pelas violências da escravidão.
O samba-enredo dos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga traz a história como se uma carta tivesse sido deixada por Luiz Gama à mãe.
- Editora Record, 952 páginas, R$ 94,90
Grande Rio e "Meu Destino É Ser Onça", de Alberto Mussa
A Grande Rio apresentou o samba-enredo Nosso Destino É Ser Onça, criação dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que tiveram como principal referência o livro Meu Destino É Ser Onça, de Alberto Mussa. A obra reconstrói o mito indígena tupinambá da criação do mundo e propõe uma reflexão sobre a simbologia da onça no cenário artístico-cultural brasileiro.
- Editora Civilização Brasileira, 208 páginas, R$ 47,90
Salgueiro e "A Queda do Céu", de Davi Kopenawa e Bruce Albert
A Salgueiro escolheu o samba-enredo Hutukara, do carnavalesco Edson Pereira. A composição teve como referência a obra A Queda do Céu, escrita em coautoria pelo xamã Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert. A produção traz o relato e o testemunho de um ianomâmi sobre a riqueza e as lutas dos povos indígenas da floresta Amazônica. Na língua ianomâmi, hutukara significa "o céu original a partir do qual se formou a terra".
- Companhia das Letras, 768 páginas, R$ 82,32
Imperatriz Leopoldinense e a literatura de cordel
A escola Imperatriz Leopoldinense entrou na Sapucaí com o enredo Com a Sorte Virada pra Lua Segundo o Testamento da Cigana Esmeralda. Escrita pelo carnavalesco Leandro Vieira, a letra é baseada em uma obra de literatura de cordel escrita há mais de cem anos pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, que fala sobre o encontro de um testamento deixado por uma cigana chamada Bruges de Esmeralda e que reflete sobre os conceitos de sorte e azar.