
Há 69 anos, a Feira do Livro de Porto Alegre preenche a Praça da Alfândega durante a primavera. Em 2023, o evento ocorre de 27 de outubro a 15 de novembro. Para celebrar a tradicional celebração da literatura da Capital, GZH lança a série Feira da Minha Vida, na qual convida personalidades que contribuem para a cultura do Rio Grande do Sul a compartilhar lembranças de edições que marcaram suas histórias.
O ator e cineasta porto-alegrense Werner Schünemann, 64 anos, ficou conhecido nacionalmente ao dar vida ao general Bento Gonçalves da Silva, na minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003), da TV Globo, e, dois anos antes, ao General Netto, no filme Netto Perde Sua Alma (2001). Desde então, estrelou inúmeros papéis na TV brasileira. É ainda autor do livro Alice Deve Estar Viva (2021). Para Schünemann, todas as feiras foram marcantes em sua vida – mas uma em específico, no início dos anos 2000, ficou guardada na memória.
— Eu lembro de uma muito engraçada, que meus filhos eram pequenos e ganharam uma grana para comprar livros, e a gente ficou de se encontrar de novo no café central. Apareceram, depois de um tempo, com sacolas cheias de livros que tinham comprado em um balaio. Eu disse: "Nossa, quantos livros", e eles responderam: "Só um pouquinho, pai, a gente vai buscar o resto, porque a gente não aguentou o peso" (risos). Não dei muito dinheiro, fazia aquilo de ensinar a conferir troco. Mas eles foram em um balaio em que havia livros por R$ 1 ou 2, aí viram que "valia a pena". Foi uma coisa que nunca mais vou esquecer, eles pequenos carregando aquelas sacolas, meio que arrastando no chão, eram muito baixinhos, tinham ido ao lado do café, logo no primeiro balaio do centro — recorda o ator.
O artista a compara à Bienal do Rio de Janeiro, que ocorre a cada dois anos e atrai cerca de 600 mil pessoas, enquanto a feira anual da capital gaúcha reúne mais de um milhão de pessoas.
— É impressionante esse número da Feira do Livro de Porto Alegre, e não é suficientemente divulgado esse resultado. Tem de ser mais divulgado fora do RS, atrair mais gente de fora. Eu tenho um romance publicado por uma editora portuguesa que só vai na Bienal de São Paulo e do Rio de Janeiro e nunca tinha ouvido falar da Feira do Livro, que existe desde os anos 1950. Eu tenho muito orgulho da feira. Erico Verissimo uma vez disse que ele vinha de uma cidade onde havia uma orquestra sinfônica. Eu quero parafrasear e dizer que eu venho de uma cidade que tem a Feira do Livro de Porto Alegre, e essa feira do livro é a maior e mais especial do Brasil — acrescenta.
Schünemann está particularmente orgulhoso desta edição da Feira, devido à escolha do patrono, Tabajara Ruas.
— Meu amigaço do peito, um homem que admiro, um escritor que admiro muito, muito mesmo, com quem fiz três filmes e vou fazer um quarto ainda. Mas não é por isso, é porque ele é um dos maiores escritores em língua portuguesa e tenho muito orgulho de ser amigo dele e de morar em uma cidade que tem um escritor dessa qualidade. Tabajara é uma inspiração nossa — conclui.