Considerado um dos principais romances do século 20 e a obra mais importante do escritor tcheco Milan Kundera, que morreu na terça-feira (11), A Insustentável Leveza do Ser foi lançado em 1984 em inglês e francês. Somente no ano seguinte o texto foi disponibilizado na língua natal do autor, que teria atrasado o lançamento para garantir que o livro estivesse bem editado.
Nascido em Brno, Kundera vivia em Paris desde 1975, onde faleceu. O escritor se exilou na França após ser condenado por criticar a invasão das tropas soviéticas a então Tchecoslováquia em 1968, reprimindo a chamada Primavera de Praga — movimento de democratização do governo do país, que logo depois foi destituído. É neste contexto que se inicia a narrativa de A Insustentável Leveza do Ser, com a chegada dos tanques soviéticos a Praga, capital da Tchecoslováquia.
A importância de A Insustentável Leveza do Ser
O livro traz um retrato sarcástico da condição humana enquanto critica a situação política no país natal do autor. Para refletir sobre dois conceitos opostos — o peso de Nietzsche e a leveza do filósofo grego Parmênides —, Kundera apresenta um triângulo amoroso formado por Tomas, Sabina e Tereza. Por ser um opositor do regime comunista, o cirurgião é forçado a trabalhar como lavador de janelas. Mulherengo, Tomas tem muitas amantes, inclusive a artista plástica Sabina, mas nunca passa a noite com nenhuma delas, representando a leveza de uma vida sem consequências.
Porém, ele conhece Tereza, com quem passa a ter um relacionamento mais sério quase sem querer e que representa o peso de se entregar de corpo e alma a outra pessoa. A avaliação de que a leveza seria melhor do que o peso ou vice-versa parece mudar ao longo de toda a narrativa.
O romance foi aclamado pela crítica e pelos leitores, principalmente no Ocidente, por conta do tom antissoviético e também pelo erotismo presente na obra, elementos que perduraram em seus trabalhos.
O primeiro romance de Kundera foi A Brincadeira (1967), em que já satirizava o regime comunista no país natal. O autor foi traduzido para mais de 50 idiomas, embora vivesse de forma muito discreta com a esposa Vera. Ele visitou a República Tcheca de forma anônima diversas vezes ao longo dos anos, após a redemocratização do país, ocorrida a partir de 1989 com a Revolução de Veludo. Kundera adotou a nacionalidade francesa em 1981 e só recuperou a cidadania tcheca em 2019.