Eleito o patrono da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre, o escritor Carlos Nejar conversou com a reportagem de GZH sobre a homenagem e sua relação com o evento. O anúncio foi realizado pela Câmara Rio-Grandense do Livro na manhã desta segunda-feira (20), no Hotel Master Express, no centro da Capital. Em 2021, o posto foi ocupado por Fabrício Carpinejar, filho do autor.
A edição 68 da Feira será realizada entre os dias 28 de outubro e 15 de novembro, na Praça da Alfândega. Depois de dois anos em formato digital ou híbrido, o evento volta a ser completamente presencial.
Poeta, ficcionista, ensaísta, tradutor e advogado, Nejar tem 83 anos e uma carreira prolífica na escrita em suas mais de seis décadas de trajetória. Desde 1989, ocupa a cadeira número 4 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Lançou obras de destaque como Livro de Silbion, Danações, O Poço do Calabouço, Riopampa — O Moinho das Tribulações, História da Literatura Brasileira, entre outros trabalhos envolvendo poesia, romance, ensaio, contos e infantojuvenil. O próprio escritor já perdeu as contas de quantas publicações ele acumula — estima-se que sejam mais de 80 obras.
Seus trabalhos mais recentes são Senhora Nuvem (Life Editora) e A República do Pampa (Casa Brasileira de Livros), que foram lançados este ano. Segundo Nejar, ainda há outras obras prontas na gaveta, aguardando publicação. O autor também tem planos de reunir todos os seus romances, entre os publicados e os inéditos, em uma grande coletânea intitulada O Procurador de Almas, lançada em dois tomos.
Além da escrita, Nejar também foi professor de Português e Literatura em escolas estaduais e teve atuação na área jurídica. Ele se formou em Ciências Jurídicas e Sociais (Direito) pela PUCRS, em 1962. Nesse campo, exerceu a advocacia e chegou a ser Procurador de Justiça do Rio Grande do Sul.
Leia a entrevista abaixo:
Como foi receber a notícia sobre ter sido escolhido patrono da Feira do Livro de Porto Alegre?
Foi uma felicidade enorme. Até nem esperava. Mas Deus é quem sabe. As coisas que vem são sempre melhores do que nós. Ainda mais recebendo o bastão do meu querido filho. É um momento em que me sinto abraçado pela minha terra. A Feira do Livro é fundamental na vida do povo gaúcho, no amor à cultura, no amor ao livro. Me sinto feliz. Tenho medo até da felicidade, ou a felicidade às vezes tem medo de mim. Eu abraço o pampa, como o pampa está me abraçando neste dia.
Você mencionou o pampa. Esse elemento é constante em sua obra. O que te desperta tanta paixão pelo pampa?
A gente não escolhe o amor. O amor é que nos escolhe. Desde o meu primeiro livro, eu me senti muito ligado ao Rio Grande do Sul. A minha palavra é uma palavra do pampa. Tenho vários livros que se referem ao Estado. O RS se tornou também a terra do meu coração. Posso viver no Rio (de Janeiro), em Vitória (no Espírito Santo), amo os lugares onde passo, mas nada substitui o Rio Grande… Neste gesto de me escolherem patrono da Feira, me senti abraçado pelo Estado.
Como é a sua relação com a Feira do Livro de Porto Alegre?
Sempre foi muito boa. Quando morava no Rio Grande do Sul, frequentava sempre a Feira. Encontrava Mario Quintana, meu amigo. Encontrava outros escritores. Sempre foi um momento de alegria. Como se eu fosse a uma festa na praça. Essa valorização do livro hoje, em um momento de encolhimento cultural, tem importância capital. Isso mostra a vinda de um novo tempo. Um tempo de superação. De um retorno à cultura, à literatura, à criação. Nosso povo vive criando um amor à palavra. Somos uma terra de escritores.
Como você pretende marcar sua passagem como patrono? Que tipo de debate você gostaria de trazer visibilidade?
Não pensei ainda nos debates. Quando ocorrer, estarei pronto. A palavra é minha amiga. A palavra sabe melhor do que eu. Não vou pensar no que vai acontecer. O importante é que aconteça. Estarei aqui servindo os leitores, dando autógrafos, falando com eles. É a grande oportunidade de aproximação do leitor e escritor.
Em entrevista a GZH, você contou que pretendia voltar a advogar. Como anda isso?
Eu me atualizei na OAB, do Rio de Janeiro. Fazia tempo que eu não advogava. Tenho um convite. Tenho um aceno de advogados que querem que eu advogue. Mas ainda não recomecei. Aceno é uma coisa, realizar é outra. Eu me sinto jovem, capaz de voltar a advogar e ir à tribuna, defender cliente. Para mim, a advocacia me desenferruja. Não basta apenas escrever. Me sinto tão energizado que preciso também advogar. Mas isso também está no tempo de Deus.