A Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), informou que tem acompanhado as manifestações nas redes sociais a respeito da escolha da escritora americana Elizabeth Bishop como homenageada da edição de 2020 e que as levará em conta.
"A campanha lançada contra a poeta nas redes sociais logo após o anúncio foi bastante expressiva e chamou nossa atenção", diz comunicado da organização do evento. "Estamos ouvindo as manifestações de todos e pensando em seu significado com a serenidade que essa questão merece", prossegue o texto.
Bishop é o primeiro nome internacional a ser celebrado pela Flip. Apesar de ser considerada uma das principais poetas recentes dos Estados Unidos, a escolha contrariou a expectativa dos que esperavam uma escritora brasileira. Causou também alvoroço o fato de a autora ter sido simpática ao golpe militar de 1964 no Brasil e feito comentários ácidos sobre a arte brasileira.
Edital
Além do episódio envolvendo a homenageada, a Flip também acabou ficando de fora do Edital de Feiras e Ações Literárias da Secretaria da Cultura, agora ligada ao Ministério do Turismo. Concorrendo na categoria destinada a projetos no valor de R$ 500 mil, o evento ficou em terceiro lugar, com 44 pontos, sendo que apenas os dois primeiros colocados recebem o prêmio. Os contemplados foram a Feira do Livro de Porto Alegre e a Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, que somaram 46 pontos cada.
Atrás da Flip, ficaram a Bienal do Livro de São Paulo, a Bienal Brasil do Livro e Leitura, em Brasília, e a Feira Literária de Bonito.
Os projetos ganham pontos baseados em cinco critérios de avaliação, incluindo histórico do evento e impacto social e econômico. A comissão que delibera o resultado é formada por dez servidores da Cultura.
O edital existe desde o ano passado. Na época, a festa literária de Paraty ficou em segundo lugar, conseguindo o financiamento. O evento de Ribeirão Preto ocupou o primeiro lugar.
Questionado sobre a importância deste dinheiro, Mauro Munhoz, diretor artístico do programa principal da Flip, disse que "todo recurso é essencial", mas ressaltou que a Flip ainda está no quarto mês de captação:
— É um processo de 11 meses em que vamos desenhando vários cenários.
Leia a íntegra da nota divulgada pela organização do evento:
A Flip - Festa Literária Internacional de Paraty é uma celebração da literatura, mas sua ação se estende a outros campos culturais. A Flip atua junto à cidade que a abriga e lança pontes com a comunidade internacional de escritores. Essa é a sua vocação. Nos últimos anos, a festa tem se transformado em um encontro cada vez mais agregador, com programação diversificada e inclusiva, abrindo-se a múltiplos pontos de vista. Isso ocorreu pelo aprofundamento da comunicação e da escuta com seu público e em função de uma demanda nacional crescente.
Em 25 de novembro, a Flip anunciou a autora homenageada de 2020, a escritora Elizabeth Bishop (1911-1979), segura de sua missão - tornar a arte brasileira melhor conhecida em suas fronteiras e no resto do mundo.
Reconhecida como uma das maiores poetas do século 20, Bishop - que viveu por quase 20 anos no nosso país - foi uma das grandes responsáveis pela divulgação da literatura brasileira em terras estrangeiras. Sua relevância para o Brasil e para a literatura foram, portanto, as razões essenciais para sua escolha. No mais, entendemos que ambiguidades e contradições são constitutivas de todo artista, fazem parte da condição humana e devem ser debatidas e criticadas na medida de sua relevância para a compreensão das obras de arte. Sabemos que a escolha da autora ou do autor a merecer a homenagem em cada edição nunca é uma unanimidade, pois a lista de merecedores é vasta. A boa polêmica faz parte do espírito da festa. No entanto, a campanha lançada contra a poeta nas redes sociais logo após o anúncio foi bastante expressiva e chamou nossa atenção e escuta.
Estamos ouvindo as manifestações de todos e pensando em seu significado com a serenidade que essa questão merece.