Nelson Gonçalves (1919-1998) viveu uma existência totalmente rock’n’roll antes mesmo de haver rock. E, quando houve rock, aliás, Nelson Gonçalves foi o artista que, sozinho, atrasou a chegada do ritmo ao Brasil. Essas e outras histórias sobre um personagem complexo e intenso estão no livro Nelson Gonçalves: O Rei da Boemia, que o jornalista Cristiano Bastos autografa nesta terça-feira (5), às 19h30min, na Praça de Autógrafos. Antes, às 18h, no Teatro Carlos Urbim, entre o Memorial e o Santander, Bastos participa de um bate-papo com o cantor João de Almeida Neto e a ex-vedete Eloina Ferraz, um dos amores do cantor.
O livro recupera as várias ascensões e quedas que Nelson, nascido em Livramento em 1919, protagonizou ao longo de quase seis décadas de carreira. De um aspirante a cantor com dificuldade para emplacar enquanto se vira em vários ofícios, entre eles o de garçom, ao maior vendedor de discos de seu tempo. Passando pelo sucesso e pelos vícios em álcool e drogas que o levaram a perder fortunas — além da já mencionada história de como ele teria atrasado o desembarque do rock no Brasil.
— Nos anos 1940 e 1950, Nelson foi o artista mais popular do Brasil, e gravava pela RCA Victor, que depois passou a ser a BMG. Era a mesma gravadora do Elvis e do Frank Sinatra. Quando a gravadora achava que o samba-canção representado pelo Nelson já havia morrido, estava em declínio, ele se associa ao compositor Adelino Moreira e lança A Volta do Boêmio, e vende milhões de cópias. E a gravadora puxa o freio de seus discos de rock porque não parava de prensar cópias daquele disco do Nelson — conta Bastos.
Ausência
Cristiano Bastos teve seu primeiro contato aprofundado com a história do “Metralha”, apelido pelo qual Nelson era conhecido, ao preparar um perfil jornalístico para a versão brasileira da revista de rock Rolling Stone, em 2008, para marcar os 10 anos da morte do cantor.Tst
— Ao fazer esse perfil, percebi que, mesmo com aqueles 10 anos, ninguém estava preparando nada muito relevante para marcar a data. Nelson, até hoje o segundo maior vendedor de discos do Brasil, havia deixado de ser presente — comenta Cristiano.
Disposto a combater esse esquecimento, Bastos começou a pesquisar, mesmo sabendo que a publicação seria dificultada pela legislação nacional então vigente.
— Fiquei intrigado e fui pesquisando, mas bem nessa época o Paulo César de Araújo havia tido problema com a biografia do Roberto Carlos. E o Nelson tem 14 filhos com quem se teria que negociar, a lei era outra, seria complicado.
Nesse meio tempo, Bastos engrenou outros dois projetos de biografias, Julio Reny: Histórias de Amor & Morte (2015) e Júpiter Maçã: A Efervescente Vida & Obra (2018). Dedicou o último ano à finalização da pesquisa e à escrita.
— Nesse trabalho, percebi que somos pobres em matéria de pesquisa sobre qualquer coisa anterior à bossa nova e à Tropicália. Sobre esses dois temas há tratados, mas sobre o samba-canção, extremamente popular antes dessa autodenominada MPB, só agora começam a sair coisas.
Bastos também está lançando nesta feira outro livro, Nova Carne para Moer (Editora Zouk), uma coletânea de reportagens e perfis jornalísticos. Ele também está levando a vida de Nelson Gonçalves para outro projeto, Metralha, uma HQ em parceria com Márcio Jr. e com o ilustrador de Zero Hora Gabriel Renner.