Com grande satisfação, trago três anúncios: o primeiro deles é que, de maneira diferente do que dizem, a narrativa não morreu. Muito menos morreu o conto, que é uma narrativa curta, breve e muito, mas muito, bem urdida.
A terceira novidade, que tem relação com as demais, é que Sérgio Rodrigues, jornalista e escritor, autor do premiado romance O Drible, anuncia seu novo título, A Visita de João Gilberto aos Novos Baianos, volume de contos que a Companhia das Letras lança oficialmente no dia 14 de junho, mas que já está em pré-venda.
O melhor de tudo: o livro é diversão na veia.
Mineiro que, como manda a regra, se radicou no Rio, colunista da Folha de S.Paulo, roteirista da TV Globo, pesquisador e linguista, Sérgio dividiu o livro em três partes: Lado A, em que separou as narrativas, digamos, mais ortodoxas; Lado B, em que enfileirou textos curtos que revolvem despojos da tradição; Terceira Margem, a última parte, que inclui o folhetim Jules Rimet, Meu Amor, publicado em 2014 como e-book. Em toda a obra, a metalinguagem é ponto forte, sem deixar de bater, de soco-inglês e uns golpes baixos, na Inconfidência Mineira, na própria literatura e, sobretudo, nos seus colegas de ofício.
Dono de uma técnica versátil e ultrapop, Sergio lida com o idioma e com o ritmo dentro de uma intimidade despudorada, coisa que se pode bem avaliar no conto que dá título ao livro e que se baseia no encontro real do mestre da bossa nova com a galera dos Novos Baianos (e que só pode ter sido escrito com a ajuda de um metrônomo). Sem perder de vista a tradição, outra joia é a “releitura” (não é a melhor expressão) de um clássico machadiano, peça de humor raríssima e preciosa em sua vulgaridade de libré: mais não falo para não estragar a leitura alheia.
Juntando duas esferas que pareciam destinadas a se repelir pela eternidade – alta literatura e humor, inteligência e graça –, Rodrigues empresta uma transcendência comovente às suas histórias, suprindo-as da humanidade que tanta falta nos tem feito, reafirmando o ancestral e sempre original papel da narrativa (e do conto e do riso) na formação coletiva e individual. Herdeiro de uma rica tradição literária, Sérgio faz do seu jeito e anuncia: “A narrativa não morreu coisa nenhuma e, embora a gente nunca possa dizer de onde vem o novo, é possível reconhecê-lo de chofre e de imediato”. Verdade, Sérgio.