Martha Medeiros está lançando um livro que é também um balanço e uma apresentação. O Meu Melhor, publicado a partir deste mês pela editora Planeta, reúne cem textos escritos pela autora ao longo dos 25 anos de carreira como colunista, completados este ano. É um passeio por algumas das mais conhecidas obras de uma das cronistas mais populares do Brasil.
Embora traga quatro textos inéditos, o volume reúne uma centena de crônicas que já foram publicadas de modo disperso em todas as demais coletâneas lançadas pela autora. Originalmente, O Meu Melhor foi planejado como forma de apresentar o trabalho da escritora ao público português, já que seria editado primeiramente na “terrinha”. A proximidade do aniversário foi um motivo para que a edição circulasse também no Brasil.
– Não é uma troca de editora. Continuo firme e forte com a L&PM, com quem trabalho há anos, mas a Planeta sempre me procurava querendo fazer algum projeto. Até que surgiu essa ideia de lançar uma coletânea geral do meu trabalho em Portugal. Pensei que seria interessante abrir esse mercado novo, mas veio também a ideia de comemorar meus 25 anos de colunismo. A minha primeira crônica na Zero Hora foi publicada em julho de 1994 – conta a autora.
Ao longo desse quarto de século, Martha escreveu umas
2 mil colunas, das quais selecionou pessoalmente uma centena para o novo livro. Como convém a textos feitos para circulação em massa, o critério foi a ressonância junto ao público. Martha reuniu as crônicas mais compartilhadas nas redes e mais comentadas pelos leitores, o que inclui exemplos famosos como O Mulherão, na qual fala das qualidades nem sempre reconhecidas das mulheres comuns, oposta à descrição masculina clichê que privilegia atributos físicos.
– Esse é um texto continuamente reproduzido e que volta a ser muito compartilhado a cada Dia da Mulher – comenta.
A seleção inclui crônicas sobre diversas experiências: relacionamentos (em Viciados em Companhia), maternidade (Levantando Voo), a falta de sensibilidade contemporânea (Handle with Care) e mesmo morte e finitude (A Morte como Consolo e Só Temos Esta).
Autora incluiu textos atribuídos a outros
Alguns dos textos fazem parte daqueles casos, comuns na internet e nada incomuns para Martha, em que suas palavras viralizaram atribuídas a outro autor.
– Escolhi textos que costumam ser publicados nas redes com autoria errada. Um deles, acho que é meu maior case desse tipo, circula como Morre Lentamente, que, na verdade, se chama A Morte Devagar. Uma crônica que correu o mundo atribuída a Pablo Neruda. Tem traduções em vários idiomas, virou música na França, entrou em filme na Itália. Hoje até tem muita gente que já sabe que é minha.
A publicação em livro sempre foi uma das formas de Martha, uma das campeãs de falsas atribuições na rede, pôr às claras a real autoria de seus textos. Ela repete o processo neste livro, mas diz que hoje já encara a situação com mais serenidade:
– Sempre achei meio xarope, embora tenha sido beneficiada, de certa maneira, porque meus textos eram creditados a Arnaldo Jabor, Mario Quintana, Clarice Lispector, uma turma muito boa. Ou seja, podia ser pior. Só que esse texto atribuído ao Neruda ganhou uma dimensão tão grande, que hoje, passados muitos anos, até sou grata a que isso tenha acontecido, porque acabou divulgando meu trabalho fora do Brasil. Até hoje eu recebo mensagens nas redes de gente da Índia, da Croácia, da Suécia.
Após uma turnê de lançamento que passou por várias Capitais (ainda não há data prevista em Porto Alegre), a autora está focada agora nos 13 novos episódios de seu canal do YouTube, MdeMartha, que devem estrear em breve.
– Um canal no YouTube para mim é uma aventura, sempre fui mais analógica. É uma maneira de abrir um diálogo com uma garotada que segue me lendo e que eu encontro nas sessões de autógrafos. Tem garotas de 16, 17 anos, e fico me perguntando como ainda me comunico com essa tribo – diz.