Victor Hugo, com sua obra-prima Notre-Dame de Paris, iniciou o movimento que salvou no século 19 a catedral parisiense, na época abandonada, e que foi parcialmente arrasada por um incêndio nesta segunda-feira (15), explica o historiador Adrien Goetz. Parte de um movimento de reapropriação da Idade Média após o Iluminismo, o escritor dedica longos capítulos à defesa dos monumentos históricos no livro, que também é conhecido pelo título O Corcunda de Notre-Dame.
— Ele queria que o povo compreendesse a história do monumento e se comprometesse em salvá-lo — declara o membro da Academia de Belas Artes, autor do prefácio do romance em sua edição Folio-Classique.
Na obra, Victor Hugo denuncia os saques cometidos pelos arquitetos do final do século 18 e início do século 19, especialmente durante a Revolução de 1830 e os motins de Saint-Germain l'Auxerrois em 1831.
— O romance, lançado em 1831, foi o responsável pela tomada de consciência do estado no qual a catedral se encontrava naquela época — conta Goetz. — A catedral de Notre-Dame havia atravessado a Revolução, o Império, ela estava em um estado muito crítico.
A obra foi tão bem sucedida que, após sua publicação, "começou-se a colecionar objetos da Idade Média, descobrir uma herança que foi muito prejudicada pelos anos da Revolução e do Império".
No capítulo intitulado Notre-Dame, Victor Hugo escreve: "Sem dúvida, ainda hoje é um edifício majestoso e sublime a igreja de Notre-Dame de Paris".
"Mas", ele acrescenta, "apesar de bonita à medida que envelhece, é difícil não suspirar, não ficar indignado com as degradações, mutilações incontáveis, que o tempo e os homens infligiram a este monumento venerável, sem respeito algum por Carlos Magno, que colocou a primeira pedra, por Filipe Augusto, que depositou a última".