Fui uma criança que começou a gostar de leituras com os quadrinhos da Turma da Mônica. Eu tinha muitos livrinhos, mas sempre eram lidos pelos meus pais. E eu adorava. Mas quando chegou a minha vez de ler sozinha... Não era a mesma coisa. Meu pai e minha mãe eram ótimos contadores de histórias. Ainda lembro das suas vozes relendo as mesmas narrativas com entusiasmo e até criando algumas novas ali na hora.
Mas depois foram os quadrinhos que os ajudaram a cumprir a missão de me fazer uma leitora. Hoje vejo minha mãe repetindo isso com a minha afilhada Shawana, de sete anos, e posso dizer que Dona Rosa segue craque na arte de estimular a leitura através dos quadrinhos. Os olhinhos da Shaw brilham todas as vezes. E algumas revistinhas da Turma da Mônica, hoje já com páginas amareladas, são as mesmas que eu guardava com carinho numa caixa de madeira embaixo da cama.
Porém, naquela época, faltava alguma coisa que eu nem sabia bem o que era. Eu não me via ali. Era amor incompleto. A namoradinha do Cascão, a Maria Cascuda, era crespinha, mas ao mesmo tempo era loira. O Pelezinho foi publicado no Brasil entre 1977 e 1982, e, como nasci em 1980, não acompanhei esse personagem.
Quando tinha sete anos, meu pai me deu um livro que mudou tudo: O Menino Marrom, do
Ziraldo, publicado em 1986. Ali, pela primeira vez, eu via na capa de um livro um personagem com a minha cor. Era menino, mas era eu. Li e reli nem sei quantas vezes só pela alegria de pegar um livro que não fosse mostrando a minha imagem como escrava, como eram todos os livros que carregava na mochila da escola. Esses só tinham ilustrações de pessoais iguais a mim, aos meus pais e avós, acorrentados e em posição de servidão. Aquilo me assustava. Será que era assim que o mundo me via?
Então, agora, quando a Turma da Mônica, que amo tanto, ganha a primeira capa da sua história com a família da personagem Milena, criada em 2017, que é negra, como não celebrar? Eu, com quase 40 anos, não vou perder a oportunidade de ler com meu pai e minha mãe, para finalmente ver as mãos deles abrindo um gibi com todos nós ali nos divertindo e vivendo muitas aventuras.
Demorou Maurício, mas valeu! Agora, também sou da turminha!