Fundadora da Comunidade Zen Budista Zendo Brasil, no templo Tenzui, em São Paulo, Monja Coen tem sete livros publicados e uma legião de fãs em seu canal Mova, no YouTube. Nesta quinta-feira (8), ela participou do evento Zen para Distraídos, na Feira do Livro.
Vivemos tempos difíceis no Brasil, em que amigos e familiares romperam laços por motivos políticos, em que os ânimos estão exacerbados e a aceitação de quem pensa diferente é cada vez menor. Como retomar a capacidade de conversar, refletir e restabelecer laços em um momento de tantos extremos?
Bem que gostaria de ter uma resposta decisiva sobre esse assunto, mas não tenho. Gostaria muito que houvesse uma reflexão mais profunda entre as pessoas sobre o que é essencial em suas vidas. Devemos criar relacionamentos de amizade tão profundos que não se rompam. Será que só é bom quem pensa como eu penso? Há muitas dúvidas e muito medo difundidos por quem pode ter vantagens em famílias dilaceradas, amigos desfeitos, sociedades polarizadas. Quando nos unimos, somos mais fortes. Quando estamos divididos somos mais fracos. É importante que todos possamos refletir sobre como estamos nos tratando mutuamente e procurarmos o caminho do diálogo que cura, que informa, que compreende, que escuta e se faz escutar. Como tudo mais, é treinamento, prática, experiência. Vamos tentar outra vez?
Muitas pessoas estão abrindo mão da convivência de amigos e parentes por questões ideológicas. Esse é um movimento que nos afasta dos princípios do bem-estar e da felicidade?
Questões de ideologia política causando rompimentos de amizades e familiares não são novidade na história da humanidade. Desde o livro mais antigo que já foi impresso, a Bíblia, a questão entre Caim e Abel continua se repetindo. Quando nós, seres humanos, iremos amadurecer e respeitar pessoas diferentes, com ideias diferentes? Devemos nos lembrar que nada é fixo ou permanente. Continuo considerando que é mais importante criar harmonia e respeito do que ganhar uma discussão ou defender um ponto de vista.
Quais são os princípios fundamentais para viver melhor no mundo moderno, em que tantos estímulos nos distraem o tempo todo e nos afastam dos momentos de quietude?
Que o autoconhecimento, a meditação e a reflexão profunda sejam elementos fundamentais para a transformação humana. É preciso compreender nosso eu menor, que talvez seja o que Freud chamaria de ego. Compreender que todos os seres podem ser movidos por esse eu menor ou podem colocá-lo em funções mais adequadas e permitir que o eu maior se manifeste em plenitude.