Tímido, porém disposto a conversar com uma numerosa plateia, Luis Fernando Verissimo participou de uma maratona de perguntas na noite desta quinta-feira (16) no Auditorio Barbosa Lessa do CCCEEV — e manteve o fôlego até o final sem desviar de nenhuma questão. O escritor foi recebido por Tibério Ramos Vargas, Maria da Glória Bordini e Antônio Goulart, em um bate-papo promovido pela ARI na Feira do Livro Porto Alegre, com apresentação da jornalista de GaúchaZH Rosane de Oliveira.
O debate tratou do processo de criação de crônicas e humor de Verissimo, mas também avançou sobre o politicamente correto e o cenário político brasileiro.
— Sempre fui um grande leitor de humor. Quando fui morar nos EUA com minha família, aos sete anos, fiquei muito ligado à cultura e ao humor americanos. Quando voltei ao Brasil, aos nove, comecei a ler os cronistas brasileiros para me reintegrar. Era aquela turma clássica, do Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Antônio Maria.
O escritor revelou sua preferência nesse time:
— O melhor deles é o Antônio Maria. Era um texto mais variado, ia desde o humorístico ao lírico. Era o cronista mais completo.
O autor também compartilhou suas preferências sobre a nova geração de humoristas. Nesta semana, ele participou de um debate na Feira do Livro com o carioca Gregorio Duvivier, o paulista Antonio Prata e o português Ricardo Araújo Pereira. Na mesa desta quinta-feira, Verissimo opinou sobre cada um deles:
— O português é um tipo muito interessante, é uma pessoa que se expressa muito bem. Duvivier também é muito bom, não só como humorista, mas também como ator. Mas talvez o melhor deles seja o Antonio Prata. É a grande revelação do humor recente no Brasil.
Luis Fernando lembrou da época em que começou a viver da escrita, iniciando sua carreira no jornal Zero Hora. De copidesque, logo passou a ocupar a vaga de editor nacional e internacional. Ele afirmou ter mudado ao longo do tempo o cuidado com seu texto por conta do politicamente correto.
— Comecei com trinta anos. Nunca tinha escrito nada antes, além de ter feito algumas traduções. Mas tinha lido muito, então já sabia como fazer humor — disse Verissimo. — A gente vai mudando. Em outros tempos, o humor do Brasil era muito focado sobre estereótipos. Felizmente isso mudou. Há certos exageros, mas o politicamente correto está mesmo correto — brincou o autor.
A eleição de Donald Trump foi tema de pergunta da plateia. Verissimo não se esquivou, e também citou Bolsonaro.
— A gente acha Trump uma aberração, mas ele tem o eleitorado dele, e está o agradando. A eleição dele foi uma aberração, mas isso faz parte do processo eleitoral americano — analisou o escritor. — No Brasil, Bolsonaro é a primeira opção de muita gente. Mas quais são as credencias dele para ser presidente? Só a vontade de matar, de sair matando. Não significa nada politicamente.
Apesar de crítico, Verissimo afirmou ser um otimista e que, por meio de suas crônicas, defende seus posicionamentos políticos:
— Temos que ter lado. Quando temos um espaço no jornal, temos que deixar isso nele. É possível ser imparcial e, ao mesmo tempo, deixar transparecer seu lado, sua opinião, em um texto.