Que nem na canção brega clássica de Peninha, Baiacu, o álbum de quadrinhos que será lançado amanhã em Porto Alegre (assim como uma exposição com originais do projeto) começou como uma brincadeira e foi crescendo, crescendo, até absorver os trabalhos de 18 artistas, um site, um ciclo de oficinas, exposições e um livro de 320 páginas.
Baiacu é uma colaboração entre os astros do quadrinho nacional Laerte e Angeli, que reuniram um grupo eclético de artistas e juntaram-nos durante 15 dias, quase isolados do mundo, para simplesmente criar arte. A coletânea resultante é um recorte interessante do que vem se produzindo de arte gráfica no Brasil.
No lançamento em Porto Alegre, marcado para amanhã, às 18h30min, no Museu do Trabalho, estão previstas as presenças de alguns dos artistas que participaram da residência criativa que deu origem à obra, como Fabio Zimbres, Juliana Russo, Eloar Guazzelli, Rafael Sica, Pedro Franz e Diego Gerlach. Sica, Guazzelli e Gerlach (e Zimbres, paulista há anos radicados no Estado) são representantes da longa tradição do Rio Grande do Sul nas artes gráficas.
A paulista Juliana Russo é pesquisadora e ilustradora, e o catarinense Franz é um dos grandes nomes da nova geração do quadrinho autoral brasileiro. Além da sessão de autógrafos do livro, será inaugurada também uma exposição com trabalhos originais. Parte do material também pode ser acompanhado na versão online da revista, em revistabaiacu.com.br.
Laerte explica em seu texto de apresentação que Baiacu tem esse nome porque começou como uma ideia singela há quatros anos: pegar seu amigo Angeli e fazer um fanzine. À medida que outros colaboradores se uniam ao projeto, como Rafael Coutinho, também artista e filho de Laerte, Carolina Guaycuru, Bruno Girello e André Conti, hoje editor da Todavia, a ideia inicial foi se expandindo para a forma final do projeto, que incluiu uma residência artística entre 9 e 24 de julho deste ano na Casa do Sol, antiga residência da escritora Hilda Hilst em Campinas, e hoje sede da fundação que leva seu nome. O projeto se expandiu como um baiacu, um peixe minúsculo que vai inchando até um tamanho inesperado.
– A gente não queria mais fazer um fanzine na raça porque o Angeli e eu já somos sessentões, a gente não tem a mesma energia dos anos 1980 para varar noite em claro fazendo revista. Aí criamos uma estrutura, trouxemos uns amigos, a ideia foi ganhando tentáculos no campo de outras possibilidades, mesmo porque não existe mais hoje em dia no Brasil aquela produção de banca de jornal, de revista. A imagem do quadrinho hoje tá mais configurada como livro, graphic novel – explica Laerte, em entrevista por telefone.
Ao longo da quinzena, os quadrinistas conviveram, trabalharam, fizeram esboços, por vezes trabalhos coletivos desenhados por mais de um deles (alguns estão no livro). Embora algumas obras reunidas no livro relatem a convivência do grupo em cenas e até mesmo histórias mais longas, o resultado final no volume é mais amplo, reunindo desde histórias até esboços rápidos, de narrativas em quadrinhos até trabalhos gráficos de caráter menos narrativo.
O trabalho também reúne material coletado junto a escritores que não chegaram a participar da residência mas que enviaram colaborações posteriores, como Daniel Galera e André Sant’Anna, cada um com um conto, e Bruna Beber, que apresenta alguns poemas.
– A gente buscou um conjunto representativo para contemplar pessoas de naturezas diferentes, tipos diferentes de criação, o fato de serem homens, mulheres, pessoas de diferentes gerações. Procuramos montar uma coisa ampla – diz Laerte.
Ao todo, a versão em livro reúne trabalhos de 18 artistas, incluindo ainda o grego Ilan Manouach, a equatoriana Power Paola e a carioca Laura Lannes.
– Ninguém parava de desenhar. Isso foi impressionante, ver esse amor pelo desenho. Havia coisas que se faziam coletivamente. Todo mundo se sentiu muito estimulado. Em um ano em que a produção cultural do país sofreu muito pelas perdas e agressões tanto políticas como econômicas, esse projeto é um raio de luz em um momento muito ruim. É um material que está em pé de igualdade com qualquer obra semelhante feita em qualquer lugar do mundo – destaca Guazzelli.
BAIACU
Organização de Angeli e Laerte
Coletânea de Quadrinhos. Editora Todavia, 320 páginas, R$ 84,90.
Sessão de autógrafos e abertura de exposição no sábado (2), a partir das 18h30min, no Museu de Trabalho (Rua dos Andradas, 230 – Porto Alegre)