O Rio Grande não como o cenário mítico de um gaúcho pilchado, mas como um local com rica formação histórica e que, mesmo assim, se encontra estagnado entre um passado idealizado e um futuro incerto. Esse é o retrato sofisticado e cheio de matizes que emerge de NósOutros Gaúchos: Identidades dos Gaúchos em Debate Interdisciplinar, livro que reúne palestras e apresentações da série de conferências de mesmo nome realizada em 2015. A obra será lançada oficialmente nesta quarta, dia 12, às 19h, no Salão de Festas da UFRGS (Avenida Paulo Gama, 110, 2º andar) em Porto Alegre.
Publicado pela Editora da UFRGS, o livro terá tiragem em papel limitada e sem venda comercial, mas será disponibilizado em e-book gratuitamente no site do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS e na página oficial da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa).
Realizado ao longo de 2015 como resultado de uma parceria entre a Appoa e a UFRGS, o ciclo de conferências NósOutros Gaúchos reuniu, ao longo de cinco encontros mensais e de um seminário final, intelectuais de vários campos para debater as identidades dos gaúchos. As palestras ganharam forma escrita a partir de transcrição e de edição aprovada por cada um dos autores. De acordo com o psicanalista Jaime Betts, um dos organizadores do ciclo e de sua versão em livro, o plural das "identidades" do subtítulo é uma questão importante.
– Reunimos em um debate interdisciplinar presencial as várias disciplinas atinentes à cultura e à história do Estado, bem como suas diferentes interpretações: quais são os nossos problemas, quais são as nossas raízes e como os outros nos veem. Discutimos as identidades gaúchas, enfatizando a ideia de que a nossa condição é formada por uma multiplicidade étnica, racial e cultural – diz Betts.
PLURALIDADE DE VISÕES
O volume traz 27 visões de palestrantes de diferentes formações: psicanalistas, como o próprio Betts e Alfredo Jerusalinsky; músicos, como José Miguel Wisnik e Pirisca Grecco; professores de Literatura como Luís Augusto Fischer e Donaldo Schüler; historiadores como Cézar Guazzelli, José Rivair Macedo e Tau Golin. Há ainda participações de nomes como o geógrafo Rualdo Menegat, o economista Enéas de Souza e o professor Breno Ferreira – que reconstitui em sua manifestação parte da história Kaiguangue no Estado.
– Uma das ênfases do projeto foi justamente a ideia de que ninguém é dono da verdade. Foi isso que oportunizou um debate aberto, franco, respeitoso, entre vários campos passíveis de dar sua contribuição, interdisciplinar, porque nenhuma disciplina, sozinha, poderia dar conta do Rio Grande todo – diz Betts.
A versão em livro reúne também imagens das exposições e espetáculos musicais e cênicos apresentados ao longo da programação do ciclo, com nomes como Déborah Finocchiaro, Renato Borghetti e Vitor Ramil.
– É um livro no qual está muito presente o aspecto de movimento que deu espírito ao ciclo: movimento de várias vozes, muitos pensamentos. Pensamos também em ir desbravando camadas, de mitos, de visões, de versões. O próprio projeto gráfico de Katia Prates pegou muito bem essa questão das camadas, dos modos de ser, das sobreposições que fizeram a discussão – diz a socióloga e professora Sinara Robin, co-organizadora do livro.