Cronista, músico e professor, Pedro Gonzaga tem trabalhos múltiplos, mas não hesita ao se definir:
– Acima de tudo, me considero um poeta. Todo o resto existe para que o poeta seja possível.
E o poeta foi possível mais uma vez, agora com Em Outros Tantos Quartos da Terra, livro que lança neste sábado, às 17h, na Estação Musical, escola de música onde o autor também oferece oficinas literárias, no bairro Rio Branco. Além de sessão de autógrafos, haverá um pocket-show do S2 Hi-Fi, duo que Gonzaga, que é também saxofonista, mantém com o também professor e músico Felipe Pimentel.
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Não é à toa que o lançamento venha acompanhado de show. A música é uma das grandes influências da escrita de Pedro Gonzaga.
– Tenho para mim que a poesia muitas vezes está mais próxima da pintura e da música que da própria literatura. Meus poetas favoritos são aqueles que descobriram a música da fala, num tom que vai da admissão de nossa derrota à branda esperança da mesa de um café ou bar. Por isso, os meus poetas são Drummond, Szymborska, Yehuda Amichai, Kaváfis e Nazim Himkmet. Na música, Leonard Cohen e Johnny Cash, com um toque de Frank Sinatra. Na pintura, a leveza do Alex Katz e o exagero de John Currin – diz o poeta.
Em Outros Tantos Quartos da Terra é o terceiro livro de poemas de Gonzaga. Além da musicalidade dos versos, que dá grande fluência à leitura, chama atenção a recorrência de imagens que conciliam o sagrado e o profano. Em um dos poemas, um anjo bate suas asas de pterodátilo no meio da sala. Algumas páginas depois, é Judas quem aparece, mas fazendo uma selfie com Jesus Cristo.
Logo nos primeiros versos, o autor deixa claro que não está interessado em usar a poesia para narrar “grandes gestos”, mas a delicadeza cotidiana. “É no reino das pequenas coisas / que a cortesia surge e se apaga / a delicadeza do cascalho / contra a solidez da rocha”, escreve no poema Montanhas, que abre o livro.
– A poesia me parece um espaço de reparação para as pequenas coisas, uma arte vingadora das pequenas e sutis transições da consciência que o cotidiano esmaga com sua uniformidade de calendário – explica Gonzaga.
Os textos foram escritos ao longo dos últimos quatro anos. Nesse período, o autor reuniu cerca de 200 poemas, mas apenas um quarto deles entrou para o livro. Mais uma vez, foi a musicalidade que pautou a escolha do que seria publicado.
– Creio que a escolha do título do livro ajudou muito, mas também a fé de que, assim como num antigo disco, a sonoridade dos poemas se complementa, que os poemas formam uma espécie de movimento coerente – afirma o autor.
EM OUTROS TANTOS QUARTOS DA TERRA
De Pedro Gonzaga
Poesia, Ardotempo, 146 páginas, R$ 40.
Lançamento neste sábado, às 17h, na Estação Musical (Schiller, 14)