Maio costumava ser o mês do Palco Giratório. Porém, neste ano, o festival promovido pelo Sesc viu sua programação ser atravessada pela água da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul naquele mesmo mês. Agora, passados seis meses desde a tragédia climática, a edição porto-alegrense finalmente ganhará forma: vai ocorrer desta quinta (31/10) até 14 de novembro, espalhando teatro, dança, música e circo pelos palcos da cidade.
A programação é diversa e engloba 39 espetáculos. Os ingressos estão à venda nas unidades do Sesc e no site do festival, onde também é possível conferir a agenda completa. Os valores variam entre R$ 20 e R$ 60 por atração, com diferentes modalidades de desconto.
Os espetáculos pagos ocorrerão em nove espaços culturais de Porto Alegre e também em teatros do Sesc em Canoas e Gravataí, na Região Metropolitana. Haverá, ainda, apresentações gratuitas em parques e praças da Capital.
Um dos destaques desta edição é a ampliação das produções gaúchas. A programação foi readequada após o hiato imposto pela enchente, e houve um esforço para incluir mais espetáculos do Rio Grande do Sul. Assim, das 39 montagens que serão apresentadas, 27 são assinadas por artistas e coletivos do Estado. Anteriormente, seriam apenas 16.
— Esse aumento tem um significado importante neste momento de reconstrução da cena cultural do Rio Grande do Sul — reflete Jane Schoninger, coordenadora de artes cênicas e visuais do Sesc-RS e uma das curadoras do circuito nacional do Palco Giratório. — O festival não resolve a situação dos coletivos locais, mas é uma possibilidade de estar no palco e ter encontros que podem ser frutíferos. É também um convite para que a população valorize e apoie a produção local.
Importantes companhias do Estado estão na programação, a exemplo do Grupo Cerco, que leva ao festival Trago Sorte, Mentira & Morte; da Cia. Stravaganza, que apresenta os espetáculos A Mulher que Queria Ser Micheliny Verunschk, Kassandra e Mritak — A Comédia da Vida; e da Usina do Trabalho do Ator (UTA), que participa com Zaze-Zaze: Uma Festa para Vavó. Também no hall de produções locais está a estreia do novo espetáculo da diretora porto-alegrense Camila Bauer, Idade É um Sentimento, montagem do texto da canadense Haley Mcgee com a atriz Gabriela Munhoz.
Entre as produções de fora destacam-se Herança, espetáculo da Cia. Burlantins (MG) protagonizado pelo ícone da cultura afro-mineira Maurício Tizumba, e um show da cantora Sandra Sá, uma das vozes mais poderosas da música brasileira. Também está na programação nacional o premiado espetáculo Leci Brandão: Na Palma da Mão, da Labalar Produções Artísticas (RJ).
O texto do jornalista Leonardo Bruno mistura música, história, religiosidade e afetos para narrar a trajetória de pioneirismos da sambista e política que completou 80 anos em 2024. O trabalho, que estreou no ano passado, rendeu um Prêmio Shell do Rio de Janeiro de melhor direção a Luiz Antônio Pilar, que celebra a oportunidade de homenagear Leci Brandão nos palcos:
— É fundamental louvar as nossas referências enquanto elas estão vivas. O Brasil ainda é um país sem memória, um país que tende a esquecer as contribuições dos seus. Por isso, é tão importante que esses movimentos sejam feitos. E poder homenagear uma pessoa como Leci Brandão, um ícone da cultura brasileira, uma mulher preta que completa 80 anos de vida, 55 anos de carreira, é acima de tudo um privilégio.
A edição homenagearia, ainda, o ator e diretor Amir Haddad, um dos mais importantes nomes do teatro brasileiro, criador do grupo Tá na Rua. Haddad estrelaria o espetáculo Zaratustra: Uma Transvaloração dos Valores, mas a apresentação foi cancelada por questões relacionadas à saúde dele.
O artista também participaria, na segunda-feira (4), de um painel do 5º Seminário Palco Giratório em Porto Alegre, que ocorre paralelamente ao festival. Contudo, conforme Jane Schoninger, a atividade está mantida e servirá para "emanar boas energias e celebrar a trajetória de Amir Haddad".
Aliás, para a curadora, a celebração deve ser tida como a marca do 18º Palco Giratório:
— Foram muitas as dificuldades que conseguimos superar. Será uma edição para comemorar a retomada, a permanência e os 18 anos desse festival que é contínuo. Logo pensaremos na edição do ano que vem, com um calendário normalizado, novamente em maio.