Fechado desde 2014, o Teatro de Câmara Túlio Piva ganhou data de reabertura: o local deve ser oficialmente reativado no dia 19 de março. Localizado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, o espaço retomará as atividades em meio às comemorações do aniversário da capital gaúcha. A programação para a data será divulgada em breve.
O teatro está interditado há uma década por conta de problemas estruturais. As obras de recuperação tiveram início em 2020, sendo realizadas pela Opinião Produtora, como parte do contrato de concessão do Auditório Araújo Vianna. A empresa privada irá administrar as duas casas até junho de 2031.
Por outro lado, 50% das datas do Túlio Piva estarão sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC). O primeiro edital para ocupação do espaço foi divulgado na última quarta-feira (21) pela pasta, mas logo causou indignação entre profissionais das artes cênicas.
Destinado à programação do primeiro semestre desse ano, o documento é voltado apenas para eventos musicais, em um espaço que se notabilizou por espetáculos teatrais. O edital não contempla atrações de teatro, dança e circo.
"O Teatro de Câmara é um espaço historicamente plural para o teatro, a dança e o circo, portanto deve continuar sendo ocupado com esta mesma expressão abrangente. Uma parceria público/privada não pode subtrair dezenas de anos de arte e cultura voltados para as artes cênicas", diz nota divulgada pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado do Rio Grande do Sul (Sated/RS). Conforme a entidade, o edital "compromete a preservação desta pluralidade porque só contempla a música".
Em campanha nas redes sociais, o sindicato também pede para que os artistas postem memórias de espetáculos no espaço com a hashtasg: "Teatro de Câmara para todas as artes".
"Pedimos encarecidamente ao secretário de Cultura e ao prefeito de Porto Alegre que revisem os conceitos de ocupação deste que é um dos espaços mais antigos desta cidade", finaliza o comunicado da Sated/RS. Entidades como Associação Articula Dança RS, Associação Gaúcha de Dança RS (Asgadan) e Associação de Circo (Circosul) endossaram a manifestação, recolhendo assinaturas de mais de 300 pessoas.
— Queremos pelo menos 75% das datas do edital, já que o espaço deveria contemplar teatro, circo, dança e música. Distribuir corretamente daria essa proporção — destaca Luciano Fernandes, presidente da Sated/RS. — Ainda faremos um ato na frente do teatro para firmar a sua importância, além de promover uma campanha de memória do uso do Teatro de Câmara para as artes cênicas.
Contraponto
De acordo com o secretário de Cultura e Economia Criativa, Henry Ventura, o teatro tem como objetivo homenagear o legado de Túlio Piva (1915 - 1993), uma dos nomes mais proeminentes do samba no Rio Grande do Sul. Ventura ressalta que, ao dedicar os primeiros três meses do teatro à música em homenagem a Túlio Piva, a intenção seria "celebrar e valorizar a contribuição artística e cultural do músico, ao mesmo tempo em que se reconhece a relevância da diversidade de expressões artísticas".
— Além dos eventos musicais, já estão programadas apresentações de teatro e dança, demonstrando um compromisso com a promoção de diferentes formas de arte no espaço do teatro — completa.
Conforme o secretário, os primeiros 15 dias do teatro serão destinados à prefeitura de Porto Alegre. Ele afirma que já estão agendadas cinco datas para o Porto Verão Alegre e uma data dedicada à dança.
— A distribuição dos dias destinados ao edital de música também é um ponto relevante a ser considerado — observa. — Com 30 dias reservados ao longo de três meses, o edital contempla uma média de 10 dias por mês para eventos musicais. Essa distribuição busca equilibrar a homenagem a Túlio Piva com a oferta de oportunidades para artistas e músicos locais, promovendo assim uma programação diversificada e inclusiva.
O presidente da Associação dos Músicos do Rio Grande do Sul (ASSMURS), Rodrigo Lentino, defendeu o edital em nota: "Uma medida de extrema importância para valorizar e contribuir com os artistas da cultura envolvidos com o segmento da música, em especial neste momento inicial de reabertura".
Histórico
Inaugurado em 1970, o Teatro de Câmara recebeu, em 1999, o nome de Túlio Piva em homenagem ao artista gaúcho. Problemas estruturais forçaram a interdição do espaço há 10 anos. Em 2012, uma sessão do espetáculo Estamira – Beira do Mundo chegou a ser interrompida depois que parte do teto cedeu devido à chuva forte, que alagou o interior do teatro.
A prefeitura promete a reabertura do espaço desde 2017. Os trabalhos de recuperação começaram em 2020, sendo realizados pela Opinião Produtora. Durante a pandemia, os trabalhos foram suspensos, sendo retomados em fevereiro de 2022.
O teatro tem capacidade para 200 pessoas. Entre as novidades, uma cafeteria deve funcionar no local. Também haverá um espaço dedicado a Túlio Piva, com a exposição de itens de seu acervo pessoal. A curadoria ficará sob responsabilidade de Katia Kneipp.