Já foi amplamente contada no teatro e no cinema a história do escritor de sucesso que viaja de carro debaixo de uma nevasca e sofre um grave acidente, sendo resgatado por uma misteriosa mulher que, dizendo ser sua leitora mais dedicada, acaba por transformá-lo em prisioneiro. Mas a peça Misery, que será exibida desta sexta-feira (25) a domingo (27) no Theatro São Pedro, em Porto Alegre (veja detalhes ao final do texto), com Mel Lisboa no papel da solitária Annie Wilkes, faz um ligeiro desvio do tradicional romance homônimo de Stephen King.
Além de ter sido encenada na Broadway e com algumas montagens no Brasil, a trama de Misery ficou mais conhecida por causa do filme Louca Obsessão (1990), de Rob Reiner. No longa, a atriz Kathy Bates interpreta a mulher que leva para casa Paul Sheldon (papel de James Caan), o acidentado autor de best-sellers, e o ajuda a se recuperar, até descobrir que ele irá "matar" Misery Chastain, a heroína de seu romance preferido. Irada, ela desvela uma faceta obcecada e maligna, típica de uma vilã. Já na mais nova adaptação brasileira, dirigida por Eric Lenate, a personagem de Mel Lisboa ganhará nuances que atenuam dualidades.
— A ideia é tirar esse estereótipo da mulher mal-amada, solitária e obcecada, que é carrasca daquele pobre escritor. Evidentemente, é a mesma história escrita pelo Stephen King, com os mesmos personagens, mas é possível dar outra leitura. Nossa versão tem mais ambiguidade. Contamos de uma forma em que se cria até certa simpatia pela Annie Wilkes — diz Mel Lisboa, que contracena com o ator Marcello Airoldi no papel do escritor que vira seu refém e também com Alexandre Galindo.
Misery é uma montagem do texto de William Goldman que fez sucesso na Broadway. A versão brasileira, traduzida e adaptada por Claudia Souto e Wendell Bendelack, estreou em 2022, em São Paulo, e conquistou o Prêmio Cenym, da Academia de Artes no Teatro do Brasil (ATEB), nas categorias de melhores sonoplastia e qualidade técnica. Também foi indicada ao Prêmio Bibi Ferreira nas categorias de melhores peça, atriz, ator, direção e cenografia.
Aos 41 anos, Mel Lisboa voltará ao Theatro São Pedro após a casa de espetáculos ter sediado o velório de seu pai, o cantor e compositor Bebeto Alves, morto em novembro de 2022. Pretende trazer para sua cidade natal, ainda sem previsão de data, seu outro espetáculo, Madame Blavatsky — Amores Ocultos, baseada na vida da ocultista russa Helena Blavatsky, fundadora da teosofia, prática que mistura a crença em antigos deuses celtas e egípcios com religiões ocidentais.
Madame Blavatsky é um projeto da própria atriz, idealizado e produzido por ela, que cresceu influenciada pelos conhecimentos místicos da mãe, a astróloga Claudia Lisboa. Sozinha no palco, Mel encarna o espírito de Blavatksy, que, muito depois de morrer, quer explicar por que foi vítima de intolerância.
A palavra "encarna" não é sinônimo para "interpreta". Na peça, o fantasma da bruxa russa procura pelo corpo de uma atriz para fazer uma nova aparição.
— A figura da Blavatsky sempre esteve meio presente na minha vida. Ela foi muito injustiçada. Se não é fácil para uma mulher hoje em dia, imagina no século 19 — reflete Mel.
A lista de projetos em que dá vida a mulheres fortes se completa com a produção de um novo espetáculo sobre Rita Lee. Em 2014, Mel estreou o musical Rita Lee Mora ao Lado, baseado na biografia escrita por Henrique Bartsch. Agora, a intenção é fazer uma nova montagem inspirada na autobiografia da cantora, que lançou dois livros retratando sua trajetória: o primeiro em 2016 e o segundo em 2023, este publicado pouco depois de sua morte.
— Felizmente, tenho personagens fortes na minha trajetória. Rita Lee, Blavatsky, até a Anita (da minissérie Presença de Anita, de 2001). Realmente, foram muitas personagens femininas marcantes. É um presente que me permite crescer na profissão — diz Mel.
Misery
- Nesta sexta-feira (25) e no sábado (26), às 20h, e domingo (27), às 18h
- Theatro São Pedro ( Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre
- Ingressos a partir de R$ 60, à venda pelo site theatrosaopedro.rs.gov.br e no local