— Começamos sem pretensão nenhuma. Nós éramos um grupo de jovens que estava muito a fim de fazer alguma coisa circense. Diziam que a gente era louco, que não íamos conseguir fazer um número de circo sem animais.
É assim que o diretor do Grupo Tholl, João Bachilli, relembra o início da montagem de Tholl, Imagem e Sonho. Ele não imaginava, porém, que o espetáculo, que foi a primeira grande empreitada da antiga Oficina Permanente de Técnicas Circenses (OPTC), daria tão certo, mas tão certo, que daria nome à companhia e, em 2022, estaria completando 20 anos de existência. E de muito sucesso.
E, para celebrar a data, os porto-alegrenses vão receber o grupo de Pelotas em um templo cultural, o Theatro São Pedro, para uma curta temporada: desta sexta-feira (12) a domingo (14). Os ingressos estão à venda no site do São Pedro. No espaço, o público verá o mesmo espetáculo que iniciou o sonho de Bachilli em 2002 — porém, é claro, com melhorias.
— Vinte anos é bastante tempo. E eu mudei pouca coisa no espetáculo. Só foram aprimoramentos. E o Imagem e Sonho se mantém agradando o público pela magia que tem, pela ludicidade. A gente consegue manter o espetáculo em pé, direitinho. E, com ele, estamos chegando a dois milhões de espectadores — celebra o diretor.
Segundo Bachilli, apesar da trupe formada por 117 artistas jamais ter parado as suas atividades — durante a pandemia, foram diversas lives e apresentações em drive-in —, celebrar as duas décadas do principal espetáculo do Grupo Tholl justamente na época da retomada, com o público presencial e podendo sentir o calor da plateia, tem um gosto especial:
— É um sabor de vitória. A gente viveu uma guerra. O público pode esperar um espetáculo vigoroso, com alguns dos artistas que eram pequeninhos na época em que vieram pela primeira vez para Porto Alegre e hoje já são adultos. Alguns até com filhos. Terá muita magia, alegria e prazer por estarmos vivendo este momento.
Começo
Bachilli sempre foi um apaixonado por circo e, desde a infância, fazia de tudo para estar próximo ao picadeiro — sempre escondido dos pais, que temiam pelos riscos que habitavam debaixo da lona, uma vez que, antigamente, animais eram permitidos. E eles estavam certos. Em uma de suas missões de se infiltrar naquele mundo, acabou abraçando um elefante, e o animal lhe deu um empurrão com a tromba. O resultado: foi parar embaixo do paquiderme e só não foi pisoteado pela mansidão do bicho. Mesmo com o susto, não desistiu daquele mundo.
Na adolescência, fez teatro e, ao deparar, nos anos 1980, com o canadense Cirque du Soleil, que trazia uma nova linguagem, mais teatral e coreografada e sem animais, decidiu que queria seguir por aquele caminho. A partir daí, o então ginasta começou a encontrar outros entusiastas daquela ideia, até que montou a OPTC e passaram a trabalhar com esquetes. Em 2002, veio a ideia de um espetáculo. Nascia ali o Tholl, Imagem e Sonho, que demorou quatro meses para ser feito.
— Quando a gente apresentou no Theatro Sete de Abril, aqui em Pelotas, as pessoas se surpreenderam de ver a qualidade que a gente tinha conseguido atingir com aquele espetáculo, mesmo tendo dado tudo errado. Foram raros os números que deram certo, mas as pessoas viram que tinha algo bem legal para se desenvolver — relembra.
E mesmo com os perrengues para criar o número, em pouco tempo o grupo foi crescendo e a fama foi chegando — pouco tempo depois, já estavam nos maiores programas da televisão nacional, apresentando-se, por exemplo, no palco de Luciano Huck, Faustão e Hebe Camargo. E tudo isso graças ao Tholl, Imagem e Sonho. Nesta mesma época, também, o grupo deixou de se chamar OPTC.
Para o acrobata Marvin Ayres Duarte, que está há 17 anos no elenco do espetáculo e esteve presente em sua ascensão nacional, essa sensação de sucesso não está presente no dia a dia dos artistas:
— Para nós, é sempre mais um dia de trabalho. Mas quando a gente é reconhecido, quando alguém diz que é muito fã do Tholl, enxergamos como é importante. Dá um baque e entendemos como é legal fazer parte de um espetáculo que vai fazer 20 ano e nunca saiu de cartaz. Nunca parou.
Futuro
Atualmente, o Grupo Tholl conta com cinco espetáculos no repertório: Imagem e Sonho, Par ou Ímpar (musical com Kleiton & Kledir), Cirquin, Exotique e o especial No Natal Daquele Ano, que é um grande sucesso e já precisa de dois elencos para cumprir a agenda de novembro e dezembro. Ainda existe o núcleo focado em teatro que, atualmente, conta com duas peças: Casinha de Chocolate e Pai-de-Deus.
Porém, mesmo com tanto trabalho, Bachilli ainda quer avançar mais. Até a metade de 2023, pretende colocar na rua mais três espetáculos, sendo a sua menina dos olhos Kaiumá, a Fronteira, que será voltado para lendas indígenas e ecologia. Além disso, a intenção é cruzar o oceano com a trupe — fora do país, o Tholl visitou apenas Argentina e Uruguai. A ideia, no ano que vem, é embarcar para Portugal e, quem sabe, levar a arte circense também para outros lugares da Europa.
— A gente tem tanta coisa para apresentar no Brasil ainda. Queremos fazer essa turnê internacional, mas queremos deixar que tudo aconteça de maneira natural, como sempre foi com o grupo. As coisas sempre vieram na hora certa, quando estávamos maduros para receber — destaca Bachilli.
Duarte celebra toda essa correria que está no horizonte, afinal, fazer arte e espalhar cultura é o que o motiva:
— A gente se sente completo, porque fazemos o que amamos. E o trabalho, que é o que estressa e sobrecarrega muitas pessoas, para nós, ao mesmo tempo, é a nossa válvula de escape. A parte boa desse trabalho é ser feliz. É o que a gente faz: se diverte.
"Tholl, Imagem e Sonho", com o Grupo Tholl
- Sexta-feira (12) e sábado (13), às 21h, e domingo (14), às 18h.
- Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro s/nº), em Porto Alegre.
- Ingressos: a partir de R$ 40 no site ou na bilheteria do Theatro São Pedro (esta aberta duas horas antes de cada sessão)