A nota entoada por uma cantora, o gesto de um ator, o beijo sob o holofote: mesmo que esses momentos durem segundos, de alguma forma eles ainda habitam os espaços cênicos. Ao lado do coletivo Ultralíricos, Felipe Hirsch, um dos diretores de teatro e cinema mais importantes do Brasil, chega ao 28º Porto Alegre em Cena para explorar os ecos e reminiscências das manifestações artísticas em Fantasmagoria nº2.
As apresentações serão no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°) nesta sexta-feira (29) e sábado (30), às 21h, e no domingo (31), às 18h (a sessão de sábado será marcada como Noite Panvel). Os ingressos gratuitos estão esgotados, mas havendo desistências, os assentos vagos serão liberados na hora.
— Esses fantasmas não são os espíritos que imaginamos que estejam ali, mas todos esses momentos, segundos, que às vezes são tão passageiros e, ao mesmo tempo, têm uma força que faz com que permaneçam no lugar — explica Hirsch.
Improvisação
O interesse pelo tema surgiu em 2019, quando o diretor trabalhava no espetáculo FIM, pausado por conta da pandemia. Depois, ele foi convidado a fazer uma performance para celebrar os 110 anos do Theatro Municipal de São Paulo, estreando no mês passado o primeiro Fantasmagoria.
Fantasmagoria nº 2 também partiu de um convite, desta vez do diretor do Porto Alegre em Cena, Fernando Zugno, para apresentar uma peça no festival — que está testando suas equipes e os grupos convidados periodicamente para covid-19.
Em conjunto com artistas locais, Hirsch montou o espetáculo a partir do que ele classificou como “um grande trabalho de improvisação” a partir desse conceito de instantes que perduram no espaço-tempo. No palco, ainda devem ser apresentadas novas composições do músico Arthur de Faria, com quem Hirsch trabalha no teatro desde 2013.
Embora a peça seja apresentada no São Pedro, Hirsch destaca que não há preocupação em ter um caráter histórico com relação ao local. O objetivo é construir uma história, fazendo uma coleção de momentos significativos.
— É um trabalho que eu comecei em 2019 e não pretende ser acabado. Aliás, não pretendo mais que meu trabalho seja acabado de forma alguma. Ele não pretende fazer com que as pessoas gostem ou não gostem, é para que as pessoas vejam um segundo e carreguem aquele segundo para o mundo da vida delas. Eu não busco mais a perfeição — declara.
Futuro
Recém de volta aos palcos, o diretor afirma estar eufórico em poder reviver presencialmente a sensação de comunhão entre artistas e público. Apesar da alegria, destaca que a arte deve enfrentar alguns desafios — até porque muitas pessoas acostumaram-se a ficar em casa assistindo a séries.
— Em um futuro próximo, o teatro pode voltar a ser um lugar amador, de formandos. O que também eu acho ótimo, se você quer saber, porque a palavra amador me agrada profundamente. Se for esse cenário, melhor. O pior que pode acontecer é o teatro se tornar um local de elite — afirma Hirsch.
Ao longo de quase dois anos, o São Pedro e outros teatros ao redor do mundo estiveram envoltos no silêncio após o fechamento de suas portas devido à pandemia. Agora, Fantasmagoria nº2 chega a Porto Alegre para relembrar os momentos permanentes, que criaram raízes no espaço cênico — e corre, com gosto, o risco de criar mais alguns espectros.