Faleceu nesta terça-feira (14), em sua casa, em Porto Alegre, a atriz e diretora de teatro Irene Brietzke. Ela tinha 76 anos e estava em tratamento contra um câncer. Discreta sobre a sua vida pessoal, não divulgou detalhes sobre a sua enfermidade.
O velório da artista ocorre nesta quarta (15), das 13h às 16h30min, também na Capital. Depois disso, o corpo será cremado. Devidos aos protocolos sanitários impostos pela pandemia, a cerimônia será restrita a familiares e amigos mais próximos.
De acordo com a atriz Mirna Spritzer, nos últimos anos, apesar de não estar mais atuando como diretora de teatro, Irene não parou de trabalhar. Ela se mantinha ativa participando de produções audiovisuais, desempenhando o seu lado de atriz em títulos como a série Doce de Mãe (2014) e o filme Beira-Mar (2015).
Ator, diretor e amigo de Irene, Zé Adão Barbosa contou que foi pego de surpresa com a notícia do falecimento da artista e que desconhecia que ela enfrentava a doença. Segundo ele, desde que a amiga decidiu abandonar a carreira de diretora, atitude a qual ele chama de "grande perda para o teatro", ela decidiu viver uma vida mais afastada dos holofotes, na zona sul da Capital.
— Irene foi uma das minhas maiores referências, não só como amiga, mas como diretora. E tenho certeza que não foi só para mim, mas também para outros tantos diretores — comenta Barbosa.
Para o diretor de teatro Luciano Alabarse, a trajetória de Irene nos palcos foi "muito bonita e iluminada":
— Uma grande perda para o teatro gaúcho. Era uma diretora brilhante e uma atriz fantástica.
Trajetória
Irene foi responsável por criar e dirigir o grupo Teatro Vivo, com o qual montou diversos espetáculos a partir de textos do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, além de autores brasileiros contemporâneos.
A sua estreia como atriz aconteceu em 1966, aos 22 anos, na montagem de Quatro Pessoas Passam enquanto as Lentilhas Cozinham, de Stuart Walker, peça para o público infantil traduzida por Cláudio Heemann, com direção de Ivo Bender e Maria de Lourdes Agnostopoulos. No ano seguinte, ela ingressou no Centro de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAD/UFRGS) para fazer o curso de teatro.
Após graduar-se em letras e direção teatral, se pós-graduando em teatro, em 1973, na Universidade de Denver, nos Estados Unidos, tornou-se professora de direção teatral e interpretação do Departamento de Arte Dramática (DAD) do Instituto de Artes da UFRGS, em 1976.
A sua dedicação à direção teatral começa em 1978, quando ela cria, juntamente com alguns alunos do DAD, a montagem de O Casamento do Pequeno Burguês, de Bertolt Brecht. Com essa peça, conquistou o seu primeiro Troféu Açorianos de melhor direção. Em 1979, funda, ao lado de Denize Barella, o Teatro Vivo e encena, com esse grupo, um roteiro seu, Frankie, Frankie, Frankenstein, inspirado na obra de Mary Shelley, com apresentações elogiadas dentro e fora do Estado.
Irene foi curadora do Festival Porto Alegre em Cena nos anos de 1996 e 1997 e também dirigiu a abertura oficial do Carnaval de Rua de Porto Alegre em 1998. No mesmo ano, comandou o espetáculo que encerrou a série de montagens brechtianas, Noite Brecht, também apresentado na cidade de Montevidéu, no Uruguai no ano seguinte.
Em 2000, dirigiu Trem-Bala, de Martha Medeiros, e, a convite do governo do Rio Grande do Sul, comandou o espetáculo Rio Grande do Sul em Música e Dança, um grande mosaico especialmente montado para sete apresentações na Expo 2000, em Hannover, na Alemanha. Encerrou sua carreira de diretora em 2002, com Almas Gêmeas, de Martha Medeiros,
Ao longo de seus 76 anos, recebeu vários prêmios pelo conjunto de sua obra. Em 1990, conquistou o Prêmio Qorpo Santo, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre; em 1991, o Na-Amat, da organização internacional As Pioneiras; em 1998, o Prêmio Ieacen, do Instituto Estadual de Artes Cênicas; e, em 2009, o Prêmio Joaquim Felizardo, da prefeitura de Porto Alegre. Além desses, recebe 22 prêmios individuais e nove coletivos por seus trabalhos em teatro.
Irene deixa mãe, irmão, duas sobrinhas e dois sobrinhos-netos.