Privados de um elemento fundamental da dança — o encontro presencial — devido à pandemia de coronavírus, 27 bailarinos participaram de uma residência artística a distância com Eva Schul: cada um de seu isolamento social.
Durante oito semanas, a coreógrafa e professora, um dos nomes mais importantes da dança no país, enviou aos intérpretes "provocações" a partir de ditos populares relacionados à ideia de resiliência (e haveria tema mais apropriado?): "Água parada não move moinhos", "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come" etc. Os vídeos dos exercícios individuais, de 3 a 5 minutos cada, foram disponibilizados no canal do projeto Levanta, Sacode a Poeira, Dá a Volta por Cima no YouTube (acesse em: linktr.ee/levantasacodeapoeira).
Agora chegou a hora de consolidar o resultado da imersão em dois trabalhos. No sábado (17), às 20h, será transmitida pelo mesmo canal do YouTube uma live sobre os processos de pesquisa do projeto, que conta com Eduardo Severino como assistente de direção e João Maldonado como criador da trilha sonora, com a voz de Adriana Deffenti. Já no dia 21, também às 20h, será lançado no canal um documentário dirigido por Alex Sernambi sobre o projeto (haverá uma versão com audiodescrição). O acesso a todo o material, financiado com recursos da Lei Aldir Blanc, é gratuito.
— A live de sábado é uma espécie de celebração de corpos e movimentos, assim como uma tentativa de resumo das conquistas. Já o documentário traz o processo mesmo e como foi sentido e interpretado por cada um e todos nós — explica Eva.
Aprendizados
Participam do projeto intérpretes-criadores de trajetória consolidada no Estado, como Cibele Sastre, Fernanda Carvalho Leite, Luciana Paludo, Mônica Dantas, Suzi Weber, Tatiana da Rosa, Thais Petzhold, Driko Oliveira e Luciano Tavares, entre muitos outros. A lista, que totaliza 27 colaboradores, traduz em número algo impossível de mensurar: a importância de estar junto, mesmo que de forma virtual, em um momento crítico para os artistas, impossibilitados de se sustentar de seu trabalho no palco.
— Creio que vários aprendizados surgiram desse processo — avalia Eva. — O primeiro foi descobrir a ansiedade dos artistas de serem mobilizados. Outro foi descobrir como criar laços sem presença, sem toque, sem pele, sem olho no olho. Descobrir o pertencimento foi essencial. E, finalmente, como livrar-se dos hábitos e se ressignificar.
Os eventos online dos dias 17 e 21 serão, acima de tudo, oportunidades para o público conhecer como funcionam os bastidores da criação artística.
— Acho muito importante salientar o foco no processo, a aproximação presenteada neste momento inédito ao público acostumado a ver apenas o resultado final pronto. É fundamental fazer reconhecer que não se trata de um espetáculo, e sim de um processo de criação compartilhado — conclui a coreógrafa.