A explosão das lives em tempos de pandemia foi impulsionada por shows musicais. Mas outros setores culturais também estão se adaptando à nova realidade do entretenimento no período de isolamento social. Estabelecer o diálogo com o espectador é um desafio comum das transmissões, algo em que o GRUPOJOGO, de Porto Alegre, promete inovar neste sábado (13), a partir das 21h, com o espetáculo teatral Deus é um DJ, que terá transmissão pelo perfil do Instituto Goethe.
A apresentação, que adapta o texto do alemão Falk Richter, promete brincar com o conceito de multitelas. A história é a mesma da encenada pelo grupo em 2019, em diversos espaços culturais da Capital e na programação do Porto Verão Alegre: um casal é contratado por uma galeria de arte para filmar e transmitir ao vivo todos os momentos de seu cotidiano. Ao se proporem ao desafio, Ela, uma ex-VJ, e Ele, um DJ, discutem os limites entre verdade e mentira para conseguir audiência.
A diferença é que, na versão live, a discussão vai ser amplificada. Os atores Louise Pierosan e Gustavo Susin vão atuar cada um de sua casa, com intervenções realizadas pelo diretor cênico Alexandre Dill e pelo diretor audiovisual Gabriel Pontes. Telas podem "invadir" a transmissão, com imagens pré-gravadas, e os próprios atores farão comentários.
— Vai nos dar muita dúvida do que é verdade e o que é mentira dentro da peça, que casa totalmente com o texto. Nós estamos transformando a linguagem do teatro, que muda de perspectiva. Não é cinema, nem artes visuais… é uma terceira coisa, mais rápida e acelerada — define Dill.
Mesmo acostumada com o personagem no palco, a experiência interativa com as redes está sendo como “a descoberta de um mundo novo” para Louise. Além de precisar ser um pouco de cenógrafa, diretora de fotografia e atriz – tudo ao mesmo tempo -, ela acredita que é um trabalho complexo falar para a câmera.
— O mais desafiador acaba sendo trabalhar com a tecnologia, porque aí tem o delay, a conexão trava… (risos). Isso tudo desgasta a fluência, porque precisamos sempre pensar o trabalho do olho no olho, o improviso e o ritmo da cena — explica Louise.
Representatividade
Deus é um DJ dialoga com o público sobre a espetacularização do ser humano nas redes sociais – algo que cresceu muito com o boom da figura do influenciador digital, na última década. Por isso, o texto de Richter é considerado visionário, já que foi escrito em 1998 e segue atual. Com o isolamento social, então, muitos artistas precisaram se reinventar na web.
— O texto fala muito sobre isso da pessoa ser para o mundo todo. A cada movimento, o espetáculo questiona se aquilo está sendo autêntico ou foi forçado para parecer natural — reflete Louise.
Muito além do questionamento existencial, o espetáculo fala sobre a violência contra a mulher. Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, divulgados em abril, apontam que a quarentena gerou um aumento no número de casos em todo o país.
— A violência é retratada a partir do comportamento abusivo do homem e esta é uma preocupação do nosso projeto, refletir sobre o incômodo da normalização disso — frisa Dill.
Portanto, acima de tudo, Deus é um DJ serve para tocar em questões que precisam ser expostas.
— A representatividade feminina é importante e, sim, a peça é bem debochada, cômica, mas quando toca nessa parte, ela muda de tom. São as pequenas ações de abuso, que não podem mais acontecer — finaliza Louise.