Desde que a política voltou a frequentar com mais intensidade as ruas e as mesas de jantar dos brasileiros, em junho de 2013, o teatro tem refletido esse contexto na cena. Nos anos seguintes, o país testemunhou um renascimento do teatro político. Manifestações de protesto se tornaram comuns também ao final das peças, na hora do agradecimento ao público.
O que se tem visto no 26º Porto Alegre em Cena, agora em sua segunda semana de programação, é uma incorporação das inquietações da atualidade sob formas cada vez mais sofisticadas. Exemplo disso é Outros, do Grupo Galpão, apresentado na semana passada e ainda com sessões fora do festival em Canoas (hoje, às 20h, no Sesc Canoas) e Caxias do Sul (sexta, às 18h e às 21h, no Teatro Pedro Parenti).
A montagem dirigida por Marcio Abreu é crítica de uma forma que não lembra em nada o dito “teatro engajado”. Por meio de frases curtas, gestos, sons e músicas, os atores se expressam em um nível mais profundo, afetivo até. Alusões políticas reverberaram em espetáculos como A Ira de Narciso e o gaúcho Ranhuras e certamente vão ecoar nesta semana em trabalhos como Gota d’Água {PRETA} – este no sábado (21) e domingo (22), às 18h, no Theatro São Pedro.
De Volta ao Lar
Outra atração internacional do festival, a peça belga Going Home – Voltando para Casa terá sessões de sexta (20) a domingo (22), às 21h, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307). Os ingressos custam R$ 80. Este delicado trabalho com o ator ruandês Dorcy Rugamba mostra a busca solitária de um jovem etíope – adotado por uma família austríaca – por sua identidade. Colocando em cena o drama pessoal da migração, a montagem abre um debate sobre impasses da geopolítica internacional ao qual se tem acesso geralmente pelo noticiário. O espetáculo conta com passagens em vídeo gravadas na Etiópia e se destaca pela trilha sonora original executada ao vivo, composta por Vincent Cahay e François Sauveur.
Dança Para um Rei
O artista francês de origem camaronesa James Carlès é o intérprete do espetáculo de dança contemporânea Happi – A Tristeza do Rei, que examina o sentido do sagrado por meio da figura do rei africano que dá nome ao espetáculo. Nesta parceria com o diretor argelino Heddy Maalem, também radicado na França, Carlès mostra um dos resultados da pesquisa sobre a diáspora negra desenvolvida em sua obra. O espetáculo será apresentado nesta quarta (18) e quinta-feira (19), às 19h, no Teatro da PUCRS (Av. Ipiranga, 6.681, prédio 40). Os ingressos custam R$ 80.
Duas vezes Paulo Flores
Um dos fundadores do Ói Nóis Aqui Traveiz, grupo de teatro com 41 anos de história, Paulo Flores vai ganhar uma biografia na série de livros Gaúchos em Cena. Escrito pelo jornalista Roger Lerina, Paulo Flores – Um Teatro com Pedra nas Veias será lançado nesta sexta (20), às 18h, no saguão do Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307). Para assistir a Paulo em ação, o público ainda pode conferir a peça Meierhold nesta quarta (18), às 19h, na Sala Álvaro Moreyra do Centro Municipal, com ingressos a R$ 30. Ao lado de Keter Velho, o atuador vive o diretor de teatro russo que foi perseguido pelo stalinismo.