O ator e diretor gaúcho Julio Saraiva morreu na noite de sexta-feira (2), aos 70 anos, em Porto Alegre, em decorrência de um câncer de pulmão. O enterro foi no sábado (3) no Cemitério São Miguel e Almas.
Natural de Porto Alegre, Saraiva trabalhou em espetáculos que ajudam a contar a história do teatro no Rio Grande do Sul, além de ter atuado no cinema. Um de seus primeiros trabalhos de relevância foi no elenco de Hoje É Dia de Rock (1976), texto de José Vicente dirigido por Dilmar Messias. A atriz Lurdes Eloy, que contracenou com ele na peça, relembra:
— Foi uma amizade de 40 anos. Compartilhamos muitos outros espetáculos e viagens. Julio era uma pessoa extremamente criativa, um artista plural, arquiteto, ator, cenógrafo, diretor, artista plástico, bonequeiro, músico, enfim, um genial criador. Era uma pessoa muito intensa e vibrante. Dói lembrar a última conversa com ele. Um homem que sempre primou pelo humor e pela alegria agora se declarou triste e sem maiores perspectivas de amanhã. Será uma perda muito sentida por todos os seus amigos.
Outro destacado trabalho como ator foi na montagem do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz para A Morte e a Donzela (1997), do chileno Ariel Dorfman, em que contracenou com Paulo Flores e Tânia Farias. Naquele ano, publicou o livro técnico de teatro Manual de Cenotecnia (editora Movimento), com João Acir e Lidia Richiniti.
Foi indicado ao Prêmio Açorianos de Teatro de 2007 pela direção de Van Gogh, em que atuou ao lado de Gutto Basso, este no papel do pintor holandês. Voltou a dirigir Basso em O Idiota — Capítulo 6 (2014), baseado na obra de Dostoiévski.
Arquiteto por formação, Saraiva teve importante atuação no teatro de bonecos. Em 1994, dirigiu Maria Farrar, baseada na peça de Bertolt Brecht, com o grupo Julietas e os Metabonecos.
Entre seus trabalhos mais recentes, estiveram as direções de Hoje Sou Hum; Amanhã Outro, peça de Qorpo-Santo com o Ubando Grupo, e O Último Personagem 1968 — Um Exercício Dramático (direção compartilhada com Eduardo Toledo), do Grupo Teatro Circo Tabarin.
No cinema, Saraiva atuou em produções como o longa Tolerância (2000), de Carlos Gerbase, e o curta Sobre Sonhos e Águas (2017), de Mirela Kruel.