Suzana Saldanha está cansada de metáforas. Por isso, decidiu se colocar em cena no espetáculo que tem sessões neste sábado (30/6) e domingo (1º/7), às 19h, na Sala da Música do Multipalco Eva Sopher. Mas, ao levar sua vida para o teatro, descobriu que já não é mais sua. É de uma personagem, talvez um alter-ego, que transita entre realidade e ficção. Assim ela escreveu o texto da peça.
Muito embora narre episódios de sua própria trajetória, eles não necessariamente ocorreram dessa forma, e embora cite nomes de pessoas que existem de verdade, não desempenharam exatamente o papel que têm na arte. É por isso que, em meio à multiplicidade de personagens que moldam a experiência humana, Suzana decidiu mudar o título do trabalho, que estreou em 2015 como Eu. Agora se chama Eu É Nós.
Não apenas o nome. Também Suzana já não é a mesma de três anos atrás. Temporada após temporada em Porto Alegre e no Rio, testemunhou algumas descobertas. Uma delas é que, sem saber, estava fazendo autoficção, conceito da moda no discurso crítico. Foi cunhado ainda em 1977 pelo francês Serge Doubrovski para designar o relato do eu sem compromisso com os fatos.
– Fiz autoficção durante a vida toda. Love/Love/Love era autoficção – recorda, a respeito da peça de 1981 encenada por Luís Artur Nunes, parceiro que também dirige Eu É Nós. – Só que, apesar de eu ser professora de atuação, não estava ligada no conceito de autoficção.
Outra descoberta foi que esta é uma peça de formação de plateia. Ao contar o itinerário de uma atriz, Suzana revela os bastidores da criação teatral. Nada poderia ser mais pegagógico.
A atriz aprendeu também a não culpar sua personagem por não ter conseguido patrocínio. Discorda do argumento do gerente de marketing mal-humorado segundo o qual o teatro é efêmero. Muito pelo contrário, garante Suzana, enumerando as montagens inesquecíveis às quais assistiu na vida:
– Como pode o teatro não ser um bem durável? O que dizer de A Classe Morta, de Tadeusz Kantor; Cemitério de Automóveis, de Victor García; e Macunaíma, de Antunes Filho? Todos esses bens eu carrego dentro de mim há anos!
Agora a atriz que retornou a Porto Alegre em 2013 depois de três décadas atuando no Rio está disposta a tornar Eu É Nós uma experiência duradoura para seus espectadores. Duas novas oportunidades se abrem ao público neste fim de semana. Uma no sábado e outra no domingo.
EU É NÓS
Neste sábado (30/6) e domingo (1º/7), às 19h.
Sala da Música do Multipalco Eva Sopher (Praça Marechal Deodoro, s/n°, anexo ao Theatro São Pedro), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 40. Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda pelo site vendas.teatrosaopedro.com.br (com taxa) e na bilheteria do Theatro São Pedro nesta sexta, das 13h às 21h, e sábado e domingo, das 15h até o horário de início.