É o grito das figuras marginalizadas pela sociedade brasileira que reverbera no palco em Balé Ralé, espetáculo com apresentação quarta (16) e quinta-feira (17), às 19h, no Teatro do Sesc (Av. Alberto Bins, 665), dentro do 13º Festival Palco Giratório.
A peça da companhia carioca Teatro de Extremos é baseada em personagens que atravessam os livros do escritor pernambucano Marcelino Freire. É a revolta, e não o autocompadecimento, o que marca as figuras criadas pelo escritor nascido no sertão nordestino, acostumado com as mazelas da pobreza que delineou a vida de todos à sua volta, começando pela própria mãe, retirante com nove filhos para criar. Ao crescer ouvindo as queixas maternas, Freire passou a chamar-lhes “vexames líricos”. Esses reclames de um povo que sofre e não tem seus pedidos atendidos assumem o peito dos atores que se revezam no palco encarnando diferentes figuras da vida real.
— Sou afetado pelas coisas que vivo, pelos assassinatos constantes de tantos filhos perdidos pelas ruas. Infelizmente, não faltam motivos para me agoniar. Costumo dizer que escrevo para me vingar. Não faltam motivos para me vingar — diz Freire, que ao lado do diretor Fabiano de Freitas participará de um debate sobre peça e personagens após o término de cada sessão.
O balé ao qual Freire se refere é a dança entre o certo e o errado que marca a vida dos mais vulneráveis, submetidos, sem escolha, a uma cadência de perdas e sofrimentos. O autor não tem medo de apresentar esses párias da sociedade sem apelar para a compaixão do público. Não vacila ao afrontar o politicamente correto mostrando as razões de uma pobre mãe para vender seus filhos na sinaleira. Não quer causar pena, mas desconforto, ao escancarar os preconceitos de cada um. Assim, mostra um menino de periferia que planeja o sequestro da própria namorada para chamar a atenção para as injustiças que vive. E também Darluz, uma personagem concebida após Freire ver uma mulher no noticiário da TV afirmando para as câmeras que vendeu os próprios filhos para ganhar a vida.
— Flagraram a mulher exatamente no momento em que ela dá o filho. Ela dizia apenas: “Dei, dei, dei, dei”. E eu fiquei com esse “dei” durante muito tempo. A partir desse gemido, tentei entender o que havia entre um “dei” e outro.
Ao querer levar para o palco os personagens de Freire, Fabiano de Freitas deu um tom pessoal ao espetáculo. Inspirou-se em um clipe dirigido por ele mesmo, Meu Coração É Brega, da cantora Fafá de Belém, para apresentar as figuras espalhadas por Angu de Sangue (2000), Balé Ralé (2003), Rasif (2008) e Amar É Crime (2010), obras que reúnem contos de Freire. É um cabaré decadente, tipicamente brasileiro, que serve de cenário para o grito dos excluídos.
— Esses personagens estão em um ponto da vida em que o passo seguinte é morrer ou matar, explodir ou se explodir. É um momento extremo. Todos esses personagens me parecem pessoas que você poderia encontrar na rua e ouvir — reflete Freitas.
13º Festival Palco Giratório Sesc/POA
- De 4 a 26 de maio em diferentes espaços de Porto Alegre
- A venda de ingressos começa nesta quarta-feira (18) em todas as unidades do Sesc no Estado e pelo site sesc-rs.com.br/palcogiratorio. Em Porto Alegre, o atendimento presencial é no Sesc Centro, de segunda a sexta, das 8h às 19h45min (durante o festival, até as 15h para a apresentação do dia), e aos sábados, das 8h às 13h.
- Durante o festival, os ingressos disponíveis serão vendidos também na bilheteria de cada local de espetáculo, uma hora antes do início da sessão.
- Os ingressos custam R$ 10 (comerciários com Cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 15 (empresários com Cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (público em geral).
- Veja a programação completa em sesc-rs.com.br/palcogiratorio.