Em meio à desvalorização dos professores no Brasil, com salários abaixo de sua importância na sociedade e patrulha ideológica de guerrilhas virtuais e de pais dos estudantes, a artista Georgette Fadel resolveu transformar o palco em uma sala de aula. Ao entrar no teatro para assistir ao espetáculo Afinação I, os espectadores inclusive recebem prancheta, papel e caneta para anotar o que quiserem. A montagem tem sessões nesta quarta (13/9) e quinta-feira (14/9) no Teatro do Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), dentro do Porto Alegre Em Cena.
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Atuando, dirigindo e assinando a dramaturgia, Georgette se inspirou em professores de sua família, como a mãe e a irmã. Mesmo o pai, que não se formou nesta profissão, ela considera um mestre do ponto de vista afetivo.
– O espetáculo não tem grandes apelos cênicos. O apelo é: fiquem e ouçam. É um convite ao aprendizado. São textos pesados, mas não abro concessões. Nossa ignorância é profunda – afirma a experiente artista formada na USP, com dois prêmios Shell na bagagem.
Na peça, Georgette toma a filósofa francesa Simone Weil (1909 – 1943) como personagem, contrapondo-a à Joana Dark, da peça A Santa Joana dos Matadouros, de Brecht. A intenção é refletir sobre a tentativa de salvar o capitalismo por meio de algum tipo de redenção místico-religiosa. Georgette não acredita nesse tipo de conciliação. Por isso, traz como referência o pensamento de Hegel, além de um trecho de O Capital, de Marx. Diz a artista:
– Os sentimentos conciliatórios cristão acreditam que pode haver um capitalismo justo se todos forem piedosos e caridosos. Não é verdade. Não é o empresário que é injusto, é o sistema. A solução proposta por Brecht e por outros é que o sistema entre em colapso.
Para Georgette, o espetáculo é uma "ode ao pensamento":
– É a possibilidade de demolir a visão de que o ser humano é mau e competitivo. Por meio de uma estratégia micropolítica, precisamos construir novos pensamentos e novas visões do outro.
Georgette terá participação tripla no festival. Nesta quinta-feira (14/9), às 23h59min, estará ao lado de Arthur de Faria e de Áurea Baptista em um recital intimista no saguão do Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307), com entrada franca. Nos dias 18 e 19, na Sala Álvaro Moreyra, ela dirige a peça Guerrilheiras ou Para a Terra Não Há Desaparecidos, sobre mulheres que participaram da guerrilha do Araguaia.
AFINAÇÃO I
Nesta quarta (13/9) e quinta-feira (14/9), às 19h.
Teatro do Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), em Porto Alegre
Ingressos: R$ 80. Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
Ponto de venda sem taxa: Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307), de terças a sábados, das 10h às 14h e das 15h às 19h.
Ponto de venda com taxa: bit.ly/24poaemcena. Outras informações pelo fone (51) 3289-8169.
Havendo disponibilidade, os ingressos serão vendidos na bilheteria do teatro, uma hora antes de cada sessão.