A maioria dos textos sobre a trajetória de Paulo Betti disponíveis por aí começa com sua saída de Sorocaba (SP), aos 20 anos, para cursar a Escola de Arte Dramática da USP na capital paulista. Esta é sua vida pública. Tudo o que veio antes – e, acredite, ele tem histórias para contar – está no monólogo Autobiografia Autorizada, com sessões neste sábado (1º/7), às 21h, e domingo (2/7), às 18h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. A apresentação marcada para hoje foi cancelada devido à greve.
Estreado em 2015, o trabalho celebra 40 anos de carreira de Betti – que dirige (ao lado de Rafael Ponzi), assina o texto e atua. A primeira ideia era criar um solo econômico para facilitar as turnês, próximo de um espetáculo de stand-up, mas Autobiografia Autorizada virou uma peça completa, com cenário, iluminação, trilha sonora e projeções.
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Desde a infância, Betti preencheu cadernos e mais cadernos com as histórias de sua família. Parou apenas quando começou a escrever colunas semanais, também de teor autobiográfico, no jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba. Material não faltava. Por isso, a versão inicial da peça tinha cinco horas de duração, que foram reduzidas para quase duas horas. Betti adianta que o espetáculo tem 50% de comédia, 25% de drama e uma parte poética. Em cena, relembra personagens marcantes de sua vida:
– Meus avós maternos vieram para o Brasil no mesmo navio, prometidos em casamento. Meu avô era um imigrante italiano que trabalhava para um fazendeiro negro. Minha mãe era uma empregada doméstica que trabalhava para uma família que tinha muitos livros, cuja casa frequentei na infância. E meu pai tinha esquizofrenia.
Artista concebeu seu Amarcord
Betti resolveu criar ele mesmo o texto do espetáculo depois de descartar uma peça escrita por um amigo na qual o ator interpretaria um personagem que satiriza o comportamento da empregada de sua mãe. Sentiu que, ao fazer a piada com a profissão que era de fato de sua mãe, estaria traindo sua classe social. Ele conta:
– As circunstâncias da vida da minha família eram tão absurdas e difíceis de digerir que escrever era, para mim, uma forma de terapia. Era importante registrar as histórias que meus pais e avós contavam e a vida que levávamos.
Os anos de provação presentearam Betti com um ditado que sempre repete: o sapo não pula por boniteza, mas por necessidade. A criança que não podia se dar ao luxo de atazanar os pais porque precisava ajudá-los se transformou em um artista que enfrenta o medo do desemprego que assombrava sua família ao se tornar produtor de seus próprios trabalhos. Para ele, os 40 anos de carreira foram construídos com 95% de suor e 5% de inspiração. Com a ajuda de sete anos de análise, hoje consegue relaxar de vez em quando.
Diferentes momentos do monólogo ilustram a inclinação para a vida artística desde cedo: a dramaticidade de seus pais e avós, os textos que recebia do padre para ler na missa, os filmes exibidos dentro da igreja e a professora que incentivava a declamação de poesia em sala de aula.
– É uma viagem felliniana pelos personagens da minha vida. Essa peça é meu Amarcord – define, referindo-se ao clássico filme-memória que Fellini dirigiu em 1973.
Como tem feito em outras cidades, o artista aguardará o público no Theatro São Pedro, uma hora antes do início de cada sessão, para divulgar o filme A Fera na Selva, baseado na novela homônima de Henry James, no qual atua ao lado de Eliane Giardini, com quem foi casado. Rodado em Sorocaba, o longa conta a história de um homem e uma mulher que compartilham um segredo e vivem na expectativa de que algum acontecimento especial ocorra.
– Inscrevi o filme no Festival de Gramado. Se for escolhido, será a primeira exibição – torce Betti.
AUTOBIOGRAFIA AUTORIZADA
Neste sábado (1º/7), às 21h, e domingo (2/7), às 18h. Duração: 110 minutos. Classificação: 12 anos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), fone (51) 3227-5100.
Ingressos: R$ 30 (galerias), R$ 60 (camarote lateral), R$ 70 (camarote central) e R$ 80 (plateia e cadeira extra).
Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda na bilheteria do teatro neste sábado e domingo, das 15h até a hora do espetáculo.