Vencedor do Prêmio Shell de São Paulo neste ano pela autoria do musical O Grande Sucesso, que tem sessões em Porto Alegre desta sexta (12/5) a domingo (14/5), o dramaturgo e diretor Diego Fortes respondeu a perguntas de Zero Hora por e-mail. Leia, a seguir, a entrevista na íntegra:
A cena de O Grande Sucesso se passa nas coxias de um espetáculo. O que acontece nos bastidores pode ser mais interessante do que o que está no palco?
A coxia é um espaço suspenso. Como dizemos na peça, a coxia está no meio do caminho: ela não é a realidade, mas ainda não é a fantasia. De tão etéreo que esse espaço pode ser, me pareceu o lugar mais interessante para acontecer uma porção de coisas e discutir aquilo que queríamos explorar.
A peça mostra um elenco de atores secundários. Por que você escolheu focar nesse tipo de personagem?
Justamente pela caracterização dessa busca pelo sucesso. São pessoas muito próximas ao "grande artista" sem se darem conta de que eles também são artistas. A beleza da arte está no ofício e não na glória. Também tenho alguma convicção de que se – e esse é um grande "se" – existe alguma verdade no mundo, ela nunca está em evidência, mas sempre pelos cantos escondidos – como numa coxia de teatro em meio ao elenco de apoio.
"Sucesso" é uma palavra muito usada, mas há pouco consenso sobre ela. Em que sentido o espetáculo questiona as definições usuais de sucesso? O que é sucesso, na sua opinião?
A peça não traz soluções. Está longe de apresentar uma noção definitiva do que pode ser o sucesso. Pelo contrário, o que temos a oferecer são questionamentos das visões mais óbvias do que é o sucesso. Penso que o sucesso da maneira mais comum do nosso imaginário é uma ilusão, um lugar que não existe – a não ser na fantasia de quem não o tem. Para mim, pessoalmente, o sucesso é ter a oportunidade de fazer coisas com algum propósito e junto de pessoas em quem se confia. Parece pouco, mas quando se para para pensar...
Muitas vezes, o caminho para o sucesso é repleto de fracassos. Você concorda com a célebre frase de Beckett de que é preciso sempre "falhar melhor"?
Quem sou eu para discordar de Beckett, não é? Mas, para ser sincero, até hoje, não tenho certeza se eu entendi todos os sentidos do que ele quis dizer com isso. Mas, sim, acho que tem faltado no mundo a oportunidade do erro. A chance da tentativa. Há muito julgamento com a falha alheia. Temos um número musical inteiro sobre isso no espetáculo em que falamos da função primordial da tragédia grega – que era, justamente, despertar nossa empatia. Não acho que só às vezes o caminho do sucesso é repleto de fracassos. Eu acho que sempre é. Pequenos fracassos e fracassos catastróficos.
Há alguns anos, temos assistido a muitos musicais nos teatros brasileiros, mas o formato parece ter se padronizado entre o musical americano e o musical biográfico brasileiro. Vocês tiveram a preocupação de inovar o formato?
Sim. A primeira ideia sempre foi a de tentar fazer algo diferente. Não temos nada contra os formatos mais tradicionais, mas não é a nossa. Não há uma pretensão megalomaníaca de ser absolutamente original, mas sempre nos preocupamos em ser autênticos. Isso implica dizer que não temos vontade e nem capacidade de fazer um "musicalzão" Broadway. Aquilo requer um treinamento e uma preparação muito específicos. Queríamos fazer o nosso musical – com todos os nossos talentos e com todas as nossas limitações – e acho que, nesse sentido, fracassamos em fracassar.
O espetáculo reúne muitos artistas da cena teatral curitibana. Como é a relação entre vocês, que já vem de longo tempo?
A relação é de profunda confiança. São pessoas que já trabalharam juntas e falharam juntas e aprenderam juntas. Então, era importante ter por perto pessoas que, mesmo que houvesse discordâncias – e acredite: houve várias! – são profissionais empenhados em fazer o melhor possível. Gente com quem discutir é algo construtivo.